Uma sigla capaz de transformar organizações e o mundo
ESG, o acrônimo amplamente difundido e que recebe a atenção cada vez mais contundente de organizações de todos os portes e setores, de seus investidores, bem como de outros públicos, refere-se aos termos Environmental, Social e Governance, em inglês, ou, traduzindo, Meio Ambiente, Social e Governança. Mais do que associado a conceitos, ele remete a boas práticas que podem e/ou devem ser incorporadas por entidades, privadas ou públicas, com a flnalidade de contribuir para o desenvolvimento sustentável de negócios, das sociedades e do planeta. “Não existe outra possibilidade de desenvolvimento que não seja ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável. O setor empresarial brasileiro está avançando nessa transformação. Aflnal, a adoção de práticas sustentáveis traz ganhos ambientais e sociais e é benéflca para os negócios”, descreve Ricardo Mastroti, diretor executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), associação fundada em 1997 e que promove o desenvolvimento sustentável por meio da articulação junto aos governos e à sociedade civil, além de divulgar os conceitos e práticas mais atuais em relação a ele.
Apesar de os temas meio ambiente, sociedade e governança permearem as pautas de organizações em diferentes épocas e com variados nomes, é a partir de 2004 que a sigla ESG passou a ser empregada. Naquele ano foi divulgado o documento “Who Cares Wins — Connecting Financial Markets to a Changing World” (“Quem se importa ganha - conectando os mercados financeiros a um mundo em mudança”). Endossado por 20 instituições financeiras convidadas pelas Nações Unidas, ele apresenta diretrizes e recomendações sobre como integrar as questões ambientais, sociais e de governança (ESG) em análises, administração e corretagem de valores mobiliários, com benefícios para os mercados e para o desenvolvimento sustentável. Gradualmente o ESG disseminou-se e as organizações trataram a incorporar boas as práticas aos seus planejamentos e estratégias, e nos relacionamentos com seus públicos de interesse. Não à toa. Os investidores estão atentos a isso e muitos privilegiam a destinação de seus recursos às companhias engajadas com ESG. Paralelamente, outros públicos, incluindo o de consumidores, ampliaram suas demandas por ações “corretas” e optam por produtos e serviços de organizações que as adotam. “A sociedade, de maneira geral, tem olhado de forma cada vez mais diferenciada em relação às responsabilidades das empresas sobre a agenda ESG. Por esse motivo, consideramos tão importante o fortalecimento de uma comunicação transparente e confiável com nossos stakeholders, tanto interna quanto externamente, pautada em projetos que, de fato, contribuam para questões sociais e ambientais. Em um cenário cada vez mais exigente, não há espaço para promessas ou projetos sem resultados claros”, afirma Fernanda Pires, vice-presidente de Pessoas e ESG na EDP Brasil.
Acredita-se, inclusive, na possibilidade de estarmos vivenciando uma transição do capitalismo de shareholders, ou seja, acionistas, para o de stakeholders, as partes interessadas. A ideia de lucro acima de tudo estaria sendo substituída pela de criação de um sistema focado nos consumidores, trabalhadores, fornecedores, comunidades, governos, mídia, organizações da sociedade civil, etc. Em outras palavras, as empresas estão preocupadas em (re)conhecer seus impactos diretos e indiretos sobre sociedades e sobre ambientes e em estabelecerem canais de comunicação e diálogo valiosos com os stakeholders, abrindo espaços de reflexão conjunta e para o aprendizado mútuo. “O mundo enfrenta três grandes crises simultâneas: a emergência climática, a perda da biodiversidade e as desigualdades crescentes — e todas exigem uma mudança na mentalidade e na postura dos negócios. Precisamos reinventar o capitalismo, transformando- o em um sistema que recompensa a verdadeira criação de valor, não a extração de valor feita pelo modelo atual, e internaliza os custos sociais e ambientais. E o Brasil só tem a ganhar: a nova economia verde traz grandes oportunidades para o país e para as empresas que aqui atuam”, explica Ricardo, do CEBDS.
E(ENVIRONMENTAL, OU AMBIENTAL) – o pilar relaciona- se aos impactos que as atividades das empresas têm sobre o meio ambiente, direta ou indiretamente. Entram nesse pilar a emissão de gases do efeito estufa, a gestão dos resíduos, o uso racional de recursos naturais, as mudanças climáticas, e as consequências das atividades para os seres vivos. A ideia é que as ações desenvolvidas pelas organizações permitam não apenas mitigar efeitos negativos, mas tenham uma perspectiva proativa e até mesmo caráter regenerativo, ou seja, que se proponham não apenas a preservar, mas também a restaurar ecossistemas.
S(SOCIAL) - esse pilar está vinculado a todas as interferências de uma organização em seu meio social, nas comunidades, entre os seus colaboradores, e ao relacionamento e reputação em relação a outras instituições. Contempla medidas vinculadas às condições de trabalho e respeito aos direitos humanos, projetos de desenvolvimento local, proteção e promoção da diversidade e inclusão, saúde e segurança, etc., seja para os colaboradores ou para públicos externos. A gestão do relacionamento com as comunidades, como a populações indígenas, por exemplo, também está incluída, nesse pilar.
G(GOVERNANCE, OU GOVERNANÇA) – diz respeito à governança corporativa de uma organização. Tange a aspectos como a composição e a diversidade dos Conselhos de Administração, as políticas de ética e transparência (como códigos de conduta e divulgação de informações aos públicos interno e externo), a cultura corporativa, os processos de gestão, os controles, o atendimento às leis e as necessidades dos stakeholders.
O crescimento registrado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) no número de associadas reflete o interesse do empresariado em participar de uma transformação de mentalidade e de postura nos negócios, vinculada, nos últimos anos, à sigla ESG (ambiental, social e governança). Em agosto deste ano, ele chegou à marca de 100, um salto de 63% em apenas 24 meses. “É uma número signiflcativo, a prova de que estamos em um momento de grande transformação. Sustentabilidade virou ‘mainstream’ e as empresas são parte da solução para um novo modelo de desenvolvimento”, reforça Ricardo Mastroti, diretor executivo do CEBDS. Juntas, as organizações ligadas à entidade têm um faturamento que representa 47% do PIB brasileiro e AVANÇO geram 1,1 milhão de empregos, e representam os principais setores da economia, como agronegócio, cosméticos, energia, flnanças, florestas, logística, mineração, óleo e gás, petroquímica, saneamento, transporte e varejo.
A EDP Brasil é exemplo de empresa que denota seu engajamento em relação às boas práticas. De acordo com a vice-presidente de Pessoas e ESG da companhia, Fernanda Pires, o comprometimento com a excelência em ESG decorre da visão de que a sustentabilidade deve estar sempre integrada em todos os aspectos de sua operação. “Assim, o ESG está no centro de nossa estratégia, e seguimos em linha com o que acreditamos ser o melhor para preservar o planeta para as futuras gerações. Como plano de ação, estabelecemos um Plano Estratégico audacioso até 2025, com forte aceleração de nossa capacidade em termos de energias renováveis e comprometimento em assumir a liderança de um movimento de transição energética justa”, explica. Segundo Fernanda, a EDP Brasil entende que uma estratégia sólida nos pilares ESG pode acelerar o fortalecimento das matrizes de geração limpa e novas tecnologias para o setor de energia, assim como contribuir para garantia do acesso à energia de forma integral para a sociedade, com fontes majoritariamente limpas. “Assumir compromisso de maneira setorial e trabalhar de forma colaborativa é fundamental para que sejam alcançados os objetivos traçados na Agenda 2030”, aflrma. Ela destaca que o setor de energia pode, e deve, contribuir para o fortalecimento de aspectos de preservação ambiental e mitigação dos riscos climáticos, e que a transparência em relação aos investimentos feitos nesse sentido, bem como sobre os resultados alcançados com eles, é fundamental para que outros setores também adotem um alto nível de engajamento e execução em aspectos ESG.
Em abril deste ano, um estudo divulgado pela SAP corroborou a perspectiva de maior interesse dos empresários em relação a ESG na América Latina e no Brasil. Intitulado “Sustentabilidade na Agenda dos Líderes Latino-Americanos”, ele trabalhou com dados de mais de 400 organizações e constatou que uma parcela expressiva de 69% de altos executivos de médias e grandes empresas na Argentina, Brasil, Colômbia e México sinalizaram já possuírem uma estratégia de sustentabilidade em suas empresas, um crescimento de 46% em relação ao número registrado na edição anterior do mesmo estudo. Ademais, 30% declararam ter acrescentado mais pilares relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU nos últimos 12 meses, enquanto 15% aflrmaram ter conseguido colocar em prática iniciativas de sustentabilidade propostas no ano anterior. Ainda, 40% esperavam aumentar os investimentos em sustentabilidade em 2022 em relação a 2021, e 51% pretendiam manter os esforços. O Brasil foi o país onde o maior número de empresas já conseguiu implementar estratégias de sustentabilidade: 68% já as tinham em funcionamento, e entre elas, 28% conflrmam ter incorporado mais pilares relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU nos últimos 12 meses. O principal desaflo para as empresas nacionais continua a ser a diflculdade de aferição de resultados: 59% dos executivos do país têm diflculdade para medir o impacto de suas ações, 13 pontos percentuais acima da média regional (46%), problema seguido pela demonstrar o retorno de seu investimento (49%). 45% estão utilizando tecnologia para superar este desaflo e aprimorar seus programas, com 15% dos líderes considerando a adoção de novas ferramentas tecnológicas para a gestão de programas ESG já em 2022.
Para Ricardo, diretor do CEBDS, o tema ESG merece a atenção de toda a sociedade e, portanto, de todo o setor empresarial. “As grandes empresas estão mais na vanguarda do desenvolvimento sustentável, portanto conseguem investir em soluções que ofereçam menos impacto em termos ambientais. Os pequenos produtores muitas vezes fazem parte da cadeia de fornecimento destas grandes empresas, e elas têm investido em capacitação e apoio a estes produtores para que possam ter acesso a novas tecnologias e mecanismos que reduzam o impacto de suas operações”, explica. Ele relata, ainda, que o CEBDS oferece conteúdos de capacitação para todo o setor e lançou na COP-27 no Egito (Clima) a Plataforma Net Zero, que pretende ajudar as empresas nesta jornada rumo à descarbonização de suas operações. Um próximo passo será o lançamento da Plataforma Ação pela Natureza na COP-15 no Canadá (Biodiversidade), fruto de esforço conjunto de diversos atores para colocar em prática e testar conjuntamente o que vem sendo discutido dentro da Convenção sobre Diversidade Biológica.
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), por sua vez, coloca à disposição, gratuitamente, o curso online ESG para pequenas empresas, cujo objetivo é instruir gestores de micro e pequenos empreendimentos para que eles conduzam seus negócios em conformidade com práticas ESG, potencializando impactos positivos, minimizando impactos negativos e equacionando prejuízos já provocados na sociedade.
Hoje nossa principal ferramenta de reporte ESG é o Relatório Anual de Sustentabilidade. Inclusive, acabamos de ser reconhecidos com uma das melhores publicações. Nosso relatório é auditado por órgão independente e isso dá muito mais credibilidade ao documento”, relata Ingrid Cicca, gerente de Sustentabilidade da Rede D´Or, maior rede integrada de cuidados em saúde no Brasil, com presença nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Maranhão, Sergipe, Ceará, Paraná, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal. Desde 2015 a organização lança, anualmente, seu Relatório de Sustentabilidade para levar, aos diferentes públicos com que se relaciona, detalhes e dados a respeito de sua estratégia e atuação em prol do meio ambiente e da sociedade, bem como as medidas adotadas para qualifl- car a sua governança corporativa. “A cobrança por práticas sustentáveis tem levado à elaboração de critérios e padrões de medição e de divulgação de dados. É necessário entender a relevância dos impactos gerados pelo negócio, propor ações para mitigá-los e fazer o reporte adequado sobre eles. Fortalecer esse trabalho é uma forma de contribuir para valorizar o que é bem-feito”, defende Ricardo Mastroti, diretor executivo do CEBDS. No caso da Rede D´Or, a companhia adota em sua publicação, especialmente, as diretrizes Global Reporting Initiative (GRI), organização internacional independente que ajuda organizações a assumirem a responsabilidade por seus impactos, fornecendo-lhes a linguagem comum e global para comunicá- los. A GRI é responsável por um dos frameworks mais empregados nos relatórios sejam elas abertas ou fechadas, mas existem outros, como os difundidos pela Value Reporting Foundation – formada pela fusão do International Integrated Reporting Council (IIRC) e do Sustainability Accounting Standards Board (SASB) – , e pelo Carbon Disclosure Project (CDP) – organização que administra o sistema global de divulgação ambiental para investidores, empresas, cidades, estados e regiões divulgarem e gerenciarem seus impactos.
Seja qual for a estrutura adotada nas publicações, o que parece ponto pacíflco é a importância de fazer essa divulgação aos stakeholders. O lançamento de relatórios, que majoritariamente reúnem as informações das organizações referentes a cada ano, permite aos investidores avaliarem questões que refletem o valor de uma companhia para além dos aspectos econômico-flnanceiros, já que o desempenho dela em relação ao meio ambiente, à sociedade e à governança se relaciona diretamente com as perspectivas de longevidade dos negócios e à redução dos riscos atrelados a eles. Ademais, clientes, fornecedores, consumidores, etc., mostram-se cada vez mais atraídos por empresas com forte perfll ESG e histórico de comprometimento em alcançar metas e objetivos de sustentabilidade.
Há, ainda, uma série de recomendações sobre como apresentar um bom relatório aos stakeholders. Elas incluem a divulgação dos riscos e oportunidades com potencial para impactar o desempenho operacional e/ou fl- nanceiro, das formas de mitigar ameaças e da estratégia da organização para a criação de valor. Recomenda-se, ainda, antes da elaboração do documento, considerar os públicos a que ele será endereçado e envolver diferentes stakeholders na seleção de assuntos mais pertinentes a eles e à própria companhia, os chamados “temas materiais”. É relevante explicar como foi feita a seleção de temas e/ ou métricas apresentados em detrimento de outros. Importante, também, é garantir a facilidade de acesso às – e a clareza das – informações (tanto quanti como qualitativas) e, sempre que possível, utilizar padrões que viabilizem comparar ações e dados com os de outras empresas. Finalmente, uma recomendação é a de submeter o documento a veriflcação externa.
No caso da EDP Brasil, segundo a sua vice-presidente de Pessoas e ESG, Fernanda Pires, a empresa divulga há seis anos seu Relatório Anual, auditado por 3ª parte, em conjunto às demonstrações flnanceiras, logo no 1º trimestre de cada ano. “Adicionalmente e, também, como resposta às necessidades atuais, completamos a divulgação das informações com a publicação trimestral dos nossos resultados ESG, disponibilizado de forma pública no site de Relações com investidores da EDP Brasil, em conjunto aos resultados trimestrais”, detalha a executiva.
O levantamento “Divulgação de ESG no Ibovespa – 2022”, realizado pela PwC, analisou como as empresas brasileiras de capital aberto abordam questões socioambientais e de governança em seus relatórios. Foram consideradas todas as integrantes do Ibovespa – índice de maior relevância no mercado de capitais brasileiro. A amostra de empresas foi de 88, sendo que 76 divulgaram relatórios. Dentre os achados da pesquisa estão os de que a maioria das companhias divulga informações sobre as emissões de gases causadores do efeito estufa em toda a cadeia de valor (82% dos relatórios analisados apresentam as emissões de gases para os escopos 1, 2 e 3), mas o percentual de empresas que relatam metas de redução nas emissões é bem menor (57%). Há avanços, também, nas apresentações de métricas de diversidade, em especial sobre raça e LGBTQI+, bem como nas informações sobre riscos climáticos, além de uma tendência semelhante em relação aos riscos socioambientais, hídricos e de desastres epidêmicos. Ainda, de acordo com o estudo, em linha com a adesão maior ao Pacto contra a Corrupção e com a importância da ética e integridade como um dos temas materiais mais citados nos relatórios, nota-se uma transparência maior na divulgação de casos de corrupção e de denúncias. No que se refere à asseguração das publicações, 65% foram submetidos a algum tipo. Em suas observações flnais, os autores do estudo citam que, apesar dos avanços é preciso atenção para evitar que relatórios acabem sendo meras cartas de boas intenções, havendo a necessidade de apresentar metas e ações, e que as empresas recém-chegadas ao mercado de capitais já deveriam demonstrar maior alinhamento com as agendas ESG: apenas 50% das empresas que flzeram IPO a partir de 2020 divulgaram relatórios com informações sociais, ambientais e de governança.
No último mês de novembro, o Egito sediou a COP27, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, e o Brasil foi representado também pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Na percepção de Viviane Romeiro, responsável pela CT Clima, Energia e Finanças Sustentáveis da entidade, a COP 27 acabou sendo uma conferência mais processual, enquanto a expectativa era de que fosse voltada para uma agenda de implementação, ou seja, para que avanços importantes fossem feitos em relação a ações efetivas para o cumprimento dos compromissos e metas previamente estabelecidos, como o esforço para conter o aquecimento global em até 1,5°C até o flm deste século. “Globalmente, empresas organizaram um posicionamento contundente para reforçar esse objetivo, e o CEBDS é um dos signatários dele, reforçando a vanguarda de ambição da ação climática pelo setor empresarial. O setor empresarial defendeu o aumento da ambição climática em diversas instâncias, reaflrmando o compromisso dos negócios com os objetivos do Acordo de Paris e do Pacto Climático de Glasgow”, descreve Viviane.
Um dos pontos de destaque na participação do CEBDS na COP 27 foi o lançamento da Plataforma Net Zero, um programa da entidade em parceria com o WBCSD (Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, sigla traduzida para o português). Ele tem como objetivo transformar as metas empresariais de neutralidade climática em realidade através do apoio prático à implementação de processos de descarbonização. “O programa ajudará a acelerar ações climáticas em todas as esferas que influenciam a capacidade de empresas de reduzir emissões de gases do efeito estufa (GEE): dentro das empresas em si, nas cadeias de valor, nas políticas públicas nacionais e nos padrões net zero internacionais”, aponta Viviane.
Ela destaca, também, em relação à Conferência do Clima, que no que se refere ao tema “flnanciamento”, pela primeira vez, houve menção à necessidade de transformação do sistema flnanceiro, com citação sobre o papel central dos bancos multilaterais e instituições flnanceiras internacionais. “Tivemos como uma decisão importante a criação de um fundo de perdas e danos, que garante recursos para países mais vulneráveis que sofrem com as consequências de eventos climáticos extremos. Esse fundo tem implicações muito expressivas, porque mostra o reconhecimento de que as mudanças climáticas já afetam efetivamente estruturas e economias. Outros temas, como a transição energética, deixaram a desejar, uma vez que não flcou estabelecido um prazo para a eliminação gradual do uso de combustíveis fósseis”, conta. Segundo ela, isso enfraquece a meta de manter o aquecimento global médio da Terra em 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais.
Viviane diz, ainda, que é importante reforçar que o Brasil deve retomar sua liderança e protagonismo na agenda climática, assumindo a sua responsabilidade nela e aproveitando suas vantagens competitivas, uma vez que é detentor da maior floresta e da maior biodiversidade do mundo, podendo ser protagonista nas ações de transição para uma economia de baixo carbono.
Um artigo assinado por Tim Koller e Robin Nuttall, sócios da McKinsey, e por Witold Henisz, professor na Wharton School of the University of Pennsylvania, intitulado “Five ways that ESG creates value” (“Cinco maneiras pelas quais o ESG cria valor”), evidencia, de forma clara e didática, motivos (e eles podem ser em maior número) pelos quais as organizações devem, de fato, engajar-se em relação às boas práticas ambientais, sociais e de governança. O primeiro, diz respeito ao “Crescimento de receita”, já que, segundo os autores, “uma sólida proposta de ESG ajuda as empresas a explorarem novos mercados e expandirem aqueles em que operam atualmente”. Eles citam, ainda, que o ESG pode atrair a preferência dos consumidores. Outro benefício apontado é o da “Redução de custos”: as boas práticas, entre outras vantagens, ajudam a combater o aumento nos gastos operacionais (com economias no que se refere a matérias-primas ou ao uso de água, por exemplo).
A terceira potencial criação de valor apresentada diz respeito à “Redução das intervenções regulatórias e legais”, ou seja, uma proposta ESG sólida pode possibilitar maior liberdade estratégica, aliviando a pressão regulatória sobre as organizações. Em diferentes setores e regiões, segundo eles, isso ajuda a reduzir o risco de haver alguma ação adversa por parte dos governos.
Mais do que isso: gera suporte do próprio governo. A quarta forma pela qual uma sólida proposta ESG pode criar valor é via “Aumento da produtividade dos funcionários”, já que ajuda empresas a atrairem e reterem funcionários qualificados, suscitando entre eles um senso de propósito e aumentando a produtividade em geral. Segundo Koller, Nuttall e Henisz, impacto sociais positivos de organizações também se relacionam com uma maior satisfação com o trabalho.
Por flm, o ESG, de acordo com o artigo, agregaria valor por intermédio da “Otimização de ativos e investimentos”, ou seja, pode melhorar o retorno sobre os investimentos com a alocação de capital em oportunidades mais promissoras e sustentáveis. Além disso ajuda a evitar aportes que podem não gerar retorno por questões ambientais de longo prazo. Segundo os autores, “as regras do jogo estão mudando”, e uma forma de estar à frente da curva futura é pensar também em uma ressigniflcação de ativos agora.
O artigo completo pode ser consultado no site, no idioma original ou traduzido para o português.
A incorporação do ESG e os compromissos assumidos em relação aos pilares ambientais, sociais e de governança por organizações de todos os setores e portes podem configurar desafios, mas, certamente, representam também oportunidades (veja mais à página 5), o que as motiva a ampliar, constantemente, os esforços dedicados à execução das boas práticas. Segundo uma estimativa da Bloomberg, divulgada em 2021, o ESG deve atrair US$ 53 trilhões em investimentos até 2025 em todo o planeta.
“Eu definiria o papel de gestão ESG na Rede D’Or como uma grande oportunidade de contribuir positivamente com a sociedade, não apenas no que está relacionado à sua essência de prestação de serviços, mas porque é uma empresa que busca uma gestão responsável em toda a sua atuação”, descreve Ingrid Cicca, gerente de Sustentabilidade da organização, que, este ano, foi apontada como um dos destaques Guia Melhores do ESG 2022, organizado pela Revista Exame em parceria com o Ibmec, na categoria Saúde e Serviços de Saúde. De acordo com Ingrid, a Rede D´Or entende que a contribuição que ela pode dar para o fortalecimento do ESG e do desenvolvimento sustentável reside, inicialmente, em atuar de forma a ocasionar o menor impacto negativo possível para seus stakeholders “Paradoxalmente, apesar de salvar vidas, o sistema de saúde utiliza produtos, consome recursos, gera resíduos, etc., o que pode contribuir, se não houver cuidado, com a poluição, e assim, acabar contribuindo para agravar o cenário de saúde pública”, avalia. A executiva conta que a Rede D´Or definiu, por exemplo, quais os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) prioritários em relação aos quais pode e quer fazer a diferença. A seleção ocorreu com base na elaboração de uma Matriz de Materialidade, que permitiu à companhia capturar com mais assertividade suas externalidades, considerando a visão de seus stakeholders e, assim, estabelecer um plano de metas de curto, médio e longo prazo. ODSs são objetivos interconectados que abordam os principais desafios de desenvolvimento enfrentados por pessoas no Brasil e no mundo, estipulados pela Organização das Nações Unidas. Eles totalizam 17 objetivos e 169 metas a serem atingidos até 2030 (para conhecer mais detalhes, acesse aqui.). “Ao implementar uma metodologia para cumprir os ODSs, a Rede D’Or assume seu papel na mitigação e contribuição na solução de grandes problemas sociais e ambientais. Nosso Programa D’Or dos ODS, contempla 20 metas e, anualmente, temos feito a Comunicação de Progresso (COP) ao Pacto Global da ONU, comprovando nossos avanços”, diz.
Quem também figurou entre os destaques Guia Melhores do ESG 2022 foi a EDP Brasil, que define que as boas práticas ESG estão no centro de sua estratégia. “Nossa estratégia de atuação está contemplada em Empresas incorporam metas, compromissos e ações para honrá-los e contribuírem para o desenvolvimento sustentável quatro grandes pilares: liderança na transição energética, proteção do meio ambiente, geração de impacto positivo na sociedade e atuação sob uma forte estrutura de governança, além do nosso compromisso com os ODSs frente à Agenda 2030”, descreve a vice-presidente de Pessoas e ESG da EDP Brasil, Fernanda Pires. Dentre outras políticas, a empresa mantém a de “Inovação e Sustentabilidade”. De acordo com Fernanda, tratam-se de dois aspectos que acabam caminhando juntos. “Acreditamos e valorizamos a Inovação. Esse ano, tivemos um importante reconhecimento, pelo terceiro ano seguido, como a empresa mais inovadora do Setor Elétrico pelo anuário Valor Inovação. Não há como desassociar os investimentos feitos em Inovação das metas e compromissos da que temos com a agenda ESG, pois, de fato, estão integrados em todas as decisões e compromissos que assumimos e é uma forma de acelerar o crescimento e aumentar o impacto que queremos promover”, conta. A executiva explica que as metas da EDP são definidas dentro do planejamento estratégico da empresa, com diretrizes globais e objetivos adaptados para cada localidade. “Adotamos um modelo de reporte ESG trimestral, em que são publicados os principais indicadores da atuação da EDP em aspectos ESG, bem como o monitoramento do desempenho da empresa nas metas ambientais, sociais e de governança que incidem na remuneração variável de todos os colaboradores e liderança”, detalha.
Quem também se destaca por acreditar na inovação vinculada à sustentabilidade é a Suzano, referência global na fabricação de bioprodutos desenvolvidos a partir do cultivo de eucalipto, que recebeu o prêmio ESG Model Enterprise, no Festival Internacional Verde Zero Carbono de 2022, realizado em Beijing. O prêmio foi concedido pelo comitê organizador do festival, que incluiu algumas das mais prestigiadas instituições de pesquisa, consultorias e veículos de mídia da China. A premiação reconhece as companhias com contribuições de destaque nas áreas de energia verde, redução de emissões de carbono, inovação em tecnologia e proteção ao meio ambiente. Além disso, as principais fl- guras no evento destacam empresas que demonstram ênfase particular na necessidade de organizações da China e do mundo adotarem uma abordagem colaborativa para a inovação verde. “Na Suzano, nossa estratégia de negócio tem como base o conceito bastante pertinente de inovabilidade: inovação a serviço da sustentabilidade. Isso signiflca que nossos investimentos, nossas iniciativas de P&D, bem como nossos processos e produtos sempre integram a combinação dessas dimensões ao centro de tudo que fazemos”, diz Pablo Machado, Diretor Executivo de Negócios para a China da Suzano. “Como uma companhia que já é climate positive e trazendo novas tecnologias para o mercado que podem substituir insumos de base fóssil por materiais de origem renovável, estamos lisonjeados em ter nossos esforços reconhecidos na China com o prêmio ESG Model Enterprise”, complementa. A Suzano tem o compromisso com as mudanças climáticas, sendo um dos seus objetivos remover 40 milhões de toneladas de carbono da atmosfera entre 2020 e 2025, além de reduzir a intensidade das emissões de gases de efeito estufa de suas operações em 15% até 2030. Mais detalhes sobre ações da companhia em prol da sustentabilidade podem ser conferidas aqui.
O compromisso com ESG exige das empresas ações que possibilitem a elas qualificarem as suas atividades e as suas contribuições ao desenvolvimento sustentável das organizações, das comunidades e do meio ambiente. Os exemplos de medidas práticas adotadas são variados e respondem aos desafios e oportunidades identificados, aos compromissos assumidos e às estratégias traçadas.
No caso do Grupo Bosch, um líder mundial no fornecimento de tecnologia e serviços, dentre os seis pilares que compõem a sua estratégia de sustentabilidade até 2025, três estão relacionados com o meio ambiente. Em 2020, a organização foi a primeira empresa industrial global a tornar suas mais de 400 localidades neutras em CO2 e este trabalho se mantém. Além disso, realizou diferentes ações no Brasil para obter uma geração de energia limpa e renovável, com a instalação de módulos para usinas fotovoltaicas com capacidade de gerar mais de 1.600MWh/ano e reduzir a emissão de mais de 200 toneladas de CO2 por ano nas plantas de Campinas e Curitiba. A empresa também implementou internamente a troca de lâmpadas fluorescentes por LED, além de uma plataforma de gestão de energia, utilizada para monitorar o consumo. Outras ações focam a redução do consumo de água e de geração de resíduos, por exemplo. Ainda, em parceria com clientes e players de mercado, a Bosch investe em pesquisas e desenvolvimento de produtos e serviços mais sustentáveis.
A EDP Brasil, por sua, no pilar ambiental, investe em projetos de baixo carbono e no aumento da capacidade de geração de energia solar, a partir de projetos de geração distribuída e usinas fotovoltaicas de larga escala. “No pilar de Transição Energética, há forte investimento para aumentar nossa capacidade de geração de energia limpa, aliado ao processo de desconsolidação do portfólio de carvão. O planejamento estratégico também é a base para o desenvolvimento de ações para preservação da biodiversidade e meio ambiente, como a implementação de programas de economia circular”, descreve Fernanda Pires. Ela aponta que a EDP Brasil assumiu publicamente o compromisso de, nos próximos 15 anos, reduzir em 85% a intensidade de suas emissões face a 2017, deixando de produzir aproximadamente 8 milhões de toneladas desses gases em termos absolutos até o flnal do período. “Nos tornamos a primeira companhia do setor elétrico na América Latina, e a primeira de grande porte no Brasil a ter a meta de redução de emissões de CO² aprovada pelo Science Based Targets, o que signiflca que nossas métricas de redução de emissões são validadas de acordo com parâmetros científlcos”, conta.
O meio ambiente também é foco de atenção da Rede D´Or. Um aspecto prioritário trabalhado pela organização refere-se ao consumo de energia. “Temos o Programa de Eficiência Energética para tornar mais eficiente o sistema de climatização das unidades, a partir da automação e do monitoramento de trabalho da central de água gelada (CAG)”, conta Ingrid. O foco na central de água gelada (CAG) se dá em virtude do alto consumo nela: em um hospital moderno, a CAG equivale a 50% do consumo e por isso essa priorização. Quanto ao consumo de água, a Rede D´Or possui 17 projetos que integram um programa dedicado ao tema. A companhia também assumiu como compromisso com a campanha Race to Zero, que prevê descarbonizar suas instalações, reduzir a intensidade de emissões até 2030 e atingir o valor líquido de zero emissões até 2050.
Dentre ações na Rede D´Or em relação ao pilar “S”, está o monitoramento sobre do Clima Organizacional. “Os resultados da pesquisa de clima são usados em planos de ação e de melhorias, voltadas aos aspectos com maior impacto sobre o engajamento dos funcionários”, detalha Ingrid. Ela ressalta, ainda, a produção de artigos científicos por parte de profissionais e pesquisadores da companhia: já são mais de 1,7 mil publicações e mais de 30 mil citações em revistas científicas. A isso, somam-se outras ações: só para o combate à Covid-19, por exemplo, a Rede D´Or direcionou R$ 320 milhões.
Na EDP Brasil, o Instituto EDP é gestor de investimentos. Apenas em 2021, suas ações beneflciaram mais de 354 mil pessoas direta e indiretamente. Dentre as iniciativas levadas a cabo, destacam-se as relacionadas à digitalização em escolas públicas e projetos de acesso à energia em comunidades em vulnerabilidade social. Anualmente, a organização abre também um edital de projetos sociais que, em 2022, destinou R$ 14 milhões a atividades nas áreas de cultura, esporte, infância, adolescência e terceira idade. “Em nosso quadro de colaboradores, atuamos com programas e metas sólidas de Diversidade e Inclusão”, diz Fernanda.
No caso da Tivit, multinacional brasileira de tecnologia, a empresa mantém, dentre várias ações ligadas a ESG, um programa de formação voltado para mulheres desenvolvedoras, o Acelera Devs – Mulheres, que prepara esse público por meio de trilhas de conhecimento, mentorias e atuação em projetos reais da empresa, com direito a benefícios, como bolsa-auxílio, assistência médica e reembolso para cursos e certificados. Há iniciativas para auxiliar jovens de escolas públicas para entrarem no mercado de trabalho, aquisição de equipamentos para a montagem de estúdio em educandários, etc.
Fernanda, da EDP Brasil ressalta, no que diz respeito à governança na companhia, ações desenvolvidas dentro de programas que fortalecem a transparência da atuação e dos resultados da empresa, com ênfase para aquelas de Compliance, focadas nos públicos interno e externo, e de gestão integrada dos indicadores ESG.
Já Ingrid menciona como um destaque na Rede D´Or o trabalho desenvolvido em relação à gestão de riscos e o Programa de Integridade mantido pela organização, que contempla políticas e normas que norteiam sobre assuntos relacionados à ética e ao combate à corrupção, entre outros.
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