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*Conteúdo produzido pela Point e publicado no jornal Folha de S.Paulo em 27/07/24

Domingo, 27 de julho de 2024

Os anos que se refletem em toda a vida

Da alimentação adequada ao estímulo intelectual e bem-estar emocional, cuidados são essenciais para crianças atingirem seu pleno potencial

 

Domingo, 27 de julho de 2024


O conceito de infância mudou ao longo da história e, mesmo hoje, há variações – formais ou informais – em variados contextos. Contudo, a definição mais amplamente reconhecida é a proposta na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, um marco legal internacional ratificado por 196 países, inclusive o Brasil: o documento descreve como tal todas as pessoas com menos de 18 anos (a menos que alguma lei local determine que a maioridade seja atingida mais cedo). Se considerado esse marco etário, hoje, no mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas, existem mais de 2,4 bilhões de infantes, ou seja, eles representam aproximadamente 30% da população. O que é ponto pacífico em relação à infância é o fato de que os anos iniciais de vida de um ser humano são fundamentais para seu desenvolvimento físico, mental, emocional e cognitivo e para a formação de adultos também saudáveis no futuro.

Embora todas as etapas sejam importantes, a primeira infância requer atenção especial. A fase entre o nascimento e os cinco anos de idade é marcada por um acelerado crescimento e desenvolvimento físico e cerebral, e é também o período em que a criança é mais vulnerável. Da alimentação adequada ao estímulo intelectual e bem-estar emocional, os cuidados na infância são essenciais para que a criança atinja seu pleno potencial.

Esses cuidados começam na gestação, com o acompanhamento pré-natal pelos profissionais de saúde e, se necessário, mudanças na dieta e estilo de vida da mãe. Esses fatores influenciam diretamente no desenvolvimento do bebê e, por isso, Clóvis Francisco Constantino, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), entidade que representa profissionais que escolheram essa especialidade médica dedicada a crianças e adolescentes (leia mais na página 2), recomenda que a mulher faça também a primeira consulta com o pediatra nesse período. "É fundamental que o acompanhamento pediátrico comece ainda na gestação, pois muito do estilo de vida materno influencia na saúde da criança", afirma.

Estudos mostram que os primeiros mil dias de vida - do momento da concepção até o segundo aniversário - são decisivos para garantir o crescimento e desenvolvimento da criança, com repercussões inclusive na saúde e renda que ela terá na vida adulta. Segundo a SBP, é nesse período crítico que a incidência de doenças e mortes infantis pode ser significativamente reduzida por meio de intervenções adequadas do sistema de saúde, da família, do obstetra e do pediatra. Ações fundamentais incluem o acesso a um pré-natal bem estruturado, nutrição adequada durante a gestação e após o nascimento, suplementação de ferro e ácido fólico, realização de exames, assistência médica durante o parto, presença do pediatra na sala de parto e acompanhamento do bebê desde a primeira semana de vida.

Entre os 7 e 10 dias de vida, o recém-nascido deve ser levado à primeira consulta com o pediatra. A periodicidade das consultas em crianças saudáveis varia conforme a idade: de 0 a 6 meses, as consultas devem ser mensais; de 6 a 12 meses, bimestrais; de 12 a 18 meses, trimestrais; de um ano e meio a 5 anos, semestrais; e de 5 a 18 anos, anuais. Além de examinar a criança, as consultas pediátricas têm o papel de orientar e esclarecer as dúvidas dos pais. O pediatra aborda os benefícios do aleitamento materno, a introdução alimentar, o ganho de peso e altura do bebê, a necessidade ou não de suplementações vitamínicas de rotina, e o desenvolvimento motor, cognitivo e emocional, incluindo relações interpessoais e desempenho escolar. Também são discutidos o calendário vacinal, o funcionamento gastrointestinal e urinário, a qualidade do sono, questões sobre atividade física e tempo de tela, a importância do contato com a natureza e a prevenção de acidentes em diversos ambientes.

"Os primeiros cinco anos de vida de uma criança são primordiais para que haja um neurodesenvolvimento pleno. Por isso, os pais devem estar atentos aos sinais do desenvolvimento neuropsicomotor do bebê para que, se necessário, sejam feitas as intervenções adequadas", explica Constantino. Para isso, os pais ou responsáveis pela criança devem conhecer os marcos do desenvolvimento, ou seja, as habilidades esperadas da criança em cada faixa etária nas áreas sociais e emocionais, de linguagem e comunicação, cognitiva (aprender, pensar, resolver problemas) e de movimento e desenvolvimento físico. "Os pais devem sempre compartilhar suas dúvidas e preocupações com o pediatra para que, assim, possam observar a criança mais de perto e saber como agir", diz Constantino.

Guia

Para auxiliar pais e pediatras a identificarem precocemente quaisquer sinais de atraso do neurodesenvolvimento, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou no início deste ano a Cartilha de Desenvolvimento, que abrange a faixa etária entre os 2 meses e os 5 anos. Segundo o presidente da SBP, "em virtude da neuroplasticidade do cérebro nessa idade, quanto mais cedo for descoberto o atraso no desenvolvimento, feito o diagnóstico e encaminhamento corretos, melhor será a resposta da criança ao tratamento proposto".

Além de elencar os marcos de desenvolvimento esperados para cada idade, a cartilha fornece dicas sobre quais informações devem ser compartilhadas com os médicos e orientações para os pais e professores estimularem o aprendizado e desenvolvimento cerebral. "Uma boa parte dessa conversa e da possível identificação de algum problema é a visita mensal ao pediatra e o diálogo que deve haver entre pais e o pediatra", afirma o médico.

Criança tem de brincar

O presidente do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da SBP, Tadeu Fernandes, ressalta a importância do brincar e dos estímulos para o neurodesenvolvimento infantil, especialmente nos primeiros 2 anos de vida, embora esse tipo de atividade seja importante em todas as fases do crescimento. Segundo ele, brincar ao ar livre, com animais e com outras crianças e ter contato com a natureza são fundamentais para estimular o neurodesenvolvimento. "Interatividade com os pais, com a babá, na escolinha, onde quer que essa criança fique, quem quer que seja o cuidador, ele tem que ser orientado para que essa criança tenha estímulos de conversa, de cantar, de brincar", enfatiza.

 


PEDIATRIA

Uma jornada de dedicação e resiliência

Especialidade médica é marcada por inovação e pela articulação entre conhecimento e sensibilidade

Hoje, dia 27 de julho, é celebrado o Dia do Pediatra, data em que são homenageados os médicos que escolheram a especialidade dedicada à assistência biopsicossocial da criança, do nascimento até a adolescência. A Pediatria exige dos profissionais uma sensibilidade única e um profundo senso de responsabilidade e, ao cuidar dos pequenos desde os primeiros dias de vida até o fim da adolescência, eles estabelecem vínculos com pacientes e suas famílias, marcados por confiança e apoio. Os pediatras também precisam estar continuamente atualizados sobre as rápidas mudanças nas práticas médicas e nos tratamentos para garantir o melhor cuidado possível.

Clóvis Francisco Constantino, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) – entidade que completa 114 anos de história hoje – conta que um dos desafios da profissão é manter a resiliência emocional no dia a dia, especialmente diante de casos complexos. "Trabalhar com pacientes jovens e suas famílias pode ser intenso e exigir não só competência técnica, mas também grande força emocional", avalia. Conforme o presidente da SBP, a desvalorização profissional, a falta de reconhecimento da complexidade do cuidado infantojuvenil e a remuneração inadequada são desafios a serem vencidos. "A SBP tem buscado diuturnamente trazer mais dignidade e respeito aos pediatras, atuando para melhorar as condições de trabalho e aumentar o reconhecimento da importância dessa especialidade médica", afirma Clóvis.

A organização realiza campanhas de conscientização pública e oferece programas de educação continuada para pediatras, além de reforçar a relevância de uma abordagem holística no cuidado infantil, ou seja, considerar o paciente em sua totalidade, incluindo os aspectos físicos, emocionais, sociais e ambientais. "Com esses esforços, acreditamos que não apenas apoiamos os pediatras em sua prática diária, mas também asseguramos que as crianças recebam o melhor atendimento possível", destaca o presidente da SBP. Ao falar sobre sua própria experiência na especialidade, Clóvis conta que se dedica a ela há quase 50 anos. "O vínculo que criamos com as famílias, que muitas vezes dura por toda a vida, reflete a verdadeira essência da pediatria: ajudar a construir o futuro. É isso que nos motiva", afirma Clóvis.

Para a diretora da área científica e regulatória na Nestlé, Renata Delavy, os pediatras desempenham um papel fundamental na sociedade ao proporcionar cuidados às crianças e adolescentes e orientações a seus cuidadores. "Essa é uma tarefa que requer muito comprometimento e responsabilidade, pois para entender todas as particularidades de cada fase da vida de uma criança e fornecer orientações essenciais aos pais e responsáveis, é necessário muito estudo e atualização científica."

Já a diretora médica da Danone, Ana Grubba, por sua vez, ressalta que a empresa busca constantemente ouvir os pediatras, para entender as principais necessidades dos pequenos pacientes e trazer soluções baseadas em ciência. "Hoje, não apenas celebramos a dedicação dos pediatras à sua especialidade médica, mas também expressamos nossa gratidão pela parceria contínua. Juntos, temos trilhado um caminho em busca do bem-estar, pois acreditamos que tanto os pediatras quanto a Danone compartilham o compromisso de transformar vidas por meio da nutrição, com a ciência, a pesquisa e a inovação como pilares fundamentais."

Inovações constantes na especialidade médica

De acordo com o presidente do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da SBP, Tadeu Fernando Fernandes, o reconhecimento da importância da microbiota intestinal está entre as principais inovações no campo da pediatria. Trata-se do conceito do eixo cérebro-intestino, em que ambos "interagem" e se influenciam mutuamente. Problemas emocionais que afetam a criança ou adolescente, como bullying ou maus-tratos, por exemplo, podem impactar a saúde intestinal, provocando dor abdominal ou diarreia. A microbiota equilibrada também é importante para a saúde respiratória e da pele, para prevenir dermatites atópica e alérgica.

Para manter uma microbiota saudável, Fernandes recomenda evitar ao máximo o uso de antibióticos, que deve ser restrito a casos de real necessidade e manter uma alimentação rica em fibras. "As fibras probióticas são alimentos para as nossas bactérias do bem, chamadas de probióticas", explica o médico.

Tadeu Fernandes esclarece que não há mudanças drásticas nas orientações sobre os cuidados aos recém-nascidos, mas algumas práticas foram ajustadas com base em novas evidências científicas, como por exemplo, as recomendações sobre a exposição ao sol. Antigamente, os médicos recomendavam expor os bebês ao sol para a síntese de vitamina D, no entanto, hoje se sabe que é a radiação ultravioleta do sol do meio-dia que estimula essa síntese, a mesma que aumenta o risco de câncer de pele. Assim, a recomendação atual é administrar vitamina D em gotas. Outra mudança refere-se à introdução alimentar. Anos atrás ganhou popularidade o método Baby-led Weaning (BLW) ou desmame guiado pelo bebê, que consiste em oferecer apenas alimentos para comer com as mãos e sozinho em vez de oferecer comidas amassadas. No entanto, agora ele já não é mais recomendado, em razão do grande número de casos de engasgo e deficiências nutricionais. "A criança tem que pegar a comida com a mão (e levar) à boca, experimentar a textura, se divertir, mas o cuidador deve estar junto para fornecer a alimentação no método tradicional também", orienta.

Especialidade surgiu no século XIX

A Pediatria surgiu no final do século XIX como forma de tentar reduzir os altos índices de mortalidade infantil à época. Hoje, de acordo com dados da Demografia Médica no Brasil 2023, produzida numa parceria entre a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o Brasil já conta com mais de 48,6 mil pediatras, o que coloca a especialidade como a segunda com maior número de profissionais do Brasil, atrás apenas da de Clínica Médica.


A palavra Pediatria tem origem nas palavras gregas paidos, que significa “criança”, e iatreia, ou seja, “processo de cura” -
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AMAMENTAÇÃO

Leite materno é alimento ideal para os bebês

Seguro, limpo e com anticorpos, ele ajuda a prevenir doenças. Saúde das progenitoras também é beneficiada

Os benefícios da amamentação para a saúde da mãe e do bebê são amplamente comprovados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) descreve o leite materno como “um dos meios mais eficazes de garantir a saúde e a sobrevivência das crianças”, afinal ele é seguro, limpo e contém anticorpos que ajudam a proteger contra muitas doenças comuns na infância. Ademais, ele fornece toda a energia e nutrientes que os bebês precisam nos primeiros meses de vida, e continua a fornecer pelo menos a metade das necessidades nutricionais das crianças durante seu primeiro ano e meio, e até um terço durante o segundo. A despeito de todos esses benefícios, de acordo com OMS, e contrariamente às suas recomendações, apenas cerca de 40% dos bebês são amamentados exclusivamente até os seis meses de idade.

Por todas as suas propriedades, o leite materno é essencial para proteger inclusive contra o risco de óbito, especialmente nos primeiros 5 anos de vida. Dados do Ministério da Saúde indicam que ele pode reduzir a mortalidade infantil por causas evitáveis em até 13%. Além disso, a amamentação exclusiva nos primeiros 6 meses diminui em até 63% as internações hospitalares por doenças respiratórias, como pneumonia, bronquiolite e gripes. A Organização Mundial da Saúde, por sua vez, estima que o aleitamento materno adequado poderia salvar mais de 820 mil vidas de crianças a cada ano.

Exclusiva

A amamentação exclusiva até os 6 meses de idade reduz os riscos de desnutrição, sobrepeso e de alguns tipos de câncer ainda na infância, como a leucemia. Na vida adulta, diminui a probabilidade de obesidade e diabetes tipo 2. Mamar no peito também contribui para o desenvolvimento adequado da musculatura e ossos da face, e para o correto posicionamento dos dentes.

Conforme a OMS, pesquisas mostram que a prática está associada, ainda, ao aumento do quociente de inteligência, ao melhor desempenho escolar e à obtenção de maior renda na vida adulta. Um estudo divulgado no ano passado pela Universidade Tufts, por exemplo, sugere que a molécula mio-inositol, presente no leite humano, contribui significativamente para o desenvolvimento do cérebro dos recém-nascidos, promovendo um aumento no número de conexões entre os neurônios.

A amamentação também traz vantagens para as mães. Além de ajudar na perda de peso no pós-parto, reduz a propensão de desenvolver diabetes tipo 2 e cânceres de mama e de ovário.

Alternativas

Em algumas situações especiais, as mães não podem ou não conseguem amamentar. Há casos em que a prática pode ser até mesmo contraindicada, em razão de doenças ou condições de saúde das progenitoras e/ou dos bebês. Mães com HIV positivo, por exemplo, ou que usam medicamentos que podem ser transferidos pelo leite materno não devem amamentar. Além disso, mulheres que fazem uso regular de álcool ou drogas ilícitas também devem evitar alimentar os bebês no peito enquanto usarem essas substâncias.

Em situações específicas, os pais dos bebês podem recorrer aos Banco de Leite Humano ou a fórmulas infantis especialmente desenvolvidas para os recém-nascidos.

Quando a substituição parcial ou total do leite materno é indicada pelo pediatra, o Ministério da Saúde recomenda o uso de fórmulas, por ser um produto mais adequado ao organismo imaturo do recém-nascido e para atender as necessidades nutricionais do bebê.

Quanto a esta segunda opção, a diretora médica da Danone, Ana Grubba, destaca que se trata de produtos desenvolvidos a partir de extensas pesquisas, e que todos passam por uma análise rigorosa e padronizada. Ainda assim, segundo ela, devem ser usados apenas nos casos de efetiva impossibilidade do aleitamento materno e sob orientação de pediatras. "As fórmulas infantis são regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e seguem critérios rigorosos de quantidades máximas e mínimas de nutrientes de acordo com cada faixa etária, sendo recomendadas por profissionais da saúde de acordo com as necessidades individuais", explica.

A diretora da área científica e regulatória na Nestlé, Renata Delavy, reforça que o leite materno é a melhor fonte de nutrição para bebês e crianças pequenas. "Nas situações em que a criança não tem acesso à amamentação, é fundamental que as famílias recebam orientação nutricional individualizada de profissionais de saúde habilitados, como pediatras e nutricionistas", recomenda. "Em nosso portfólio, dispomos de produtos nutricionalmente adequados para a alimentação infantil, desenvolvidos com base em diretrizes científicas nacionais e internacionais, contribuindo com o crescimento e desenvolvimento", afirma.

Embora a fórmula seja o alimento mais adequado para os primeiros meses de vida nos casos em que a amamentação não é possível, muitas famílias brasileiras usam o leite de vaca integral. No entanto, para crianças com menos de quatro meses, o produto precisa ser modificado em casa para não sobrecarregar os rins do bebê.


Agosto Dourado

Agosto é o mês do Aleitamento Materno no Brasil. A cor está associada ao padrão ouro de qualidade do leite humano, alimento completo para as crianças nos primeiros meses de vida.

Rede de leite humano

A Rede de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR) é uma iniciativa do Ministério da Saúde, e integra a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança e Aleitamento Materno. Presente em todos os estados brasileiros, ela responde pela coleta, pelo processamento e pela distribuição de alimentos para bebês prematuros ou de baixo peso que não podem ser nutridos pelas próprias progenitoras, além de promoverem apoio e orientação para o aleitamento materno. A rBLH-BR é integrada por 241 postos de coleta e 233 Bancos de Leite no país (para saber onde eles estão, acesse aqui), o que configura a maior e mais complexa rede de bancos de leite humano do mundo, sendo referência internacional por utilizar estratégias que aliam baixo custo e alta qualidade e tecnologia.

Mães adotivas também podem amamentar, mesmo que não tenham gestado. A indução de produção de leite pode ser feita com medicamentos e técnicas de manejo das mamas, sob orientação de profissionais de saúde -
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NUTRIÇÃO

Pobreza alimentar grave afeta 8% das crianças brasileiras

Mais da metade dos atingidos pela falta de acesso a uma dieta nutritiva e diversificada vive em famílias com boas condições financeiras

Uma em cada quatro crianças menores de 5 anos no mundo – ou seja, pelo menos 181 milhões – passam por pobreza alimentar infantil grave, conforme relatório divulgado em junho pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Isso significa que elas não recebem uma dieta nutritiva e diversificada, capaz de sustentar o crescimento e o desenvolvimento saudável. No Brasil, são 8% os menores de 5 anos atingidos pelo problema, índice acima do registrado em outros países latino-americanos, como Colômbia (7%), Bolívia (7%), Uruguai (6%), Paraguai (6%), Peru (4%) e Costa Rica (3%).

Embora o rendimento familiar seja o principal motivo da alimentação precária para 46% das crianças, ele não é o único fator que leva ao quadro. Mais da metade dos menores de 5 anos (54%) nessa situação são de famílias relativamente mais ricas, mas ainda assim têm uma dieta deficitária. Entre os motivos para essa aparente contradição estão a superoferta de alimentos ultraprocessados e de bebidas açucaradas, além, é claro, do limitado acesso a alimentos nutritivos.

Conforme o Unicef e a Organização Mundial de Saúde (OMS), para crescer e atingir seu pleno potencial de desenvolvimento, as crianças precisam consumir alimentos de pelo menos cinco desses oito grupos: leite materno; grãos e raízes, tubérculos e bananas; leguminosas, nozes e sementes; laticínios; carne, frango e peixe; ovos; frutas e vegetais ricos em vitamina A; e outras frutas e vegetais. Crianças alimentadas com apenas dois desses oito grupos alimentares são consideradas em pobreza alimentar infantil grave.

Quatro em cada cinco crianças nessa situação recebem apenas leite materno ou outro tipo de leite e/ou um insumo básico, como arroz, milho ou trigo. Menos de 10% acessam frutas e vegetais e abaixo de 5%, ovos, peixes, aves ou outras carnes.


Pobreza alimentar infantil é a incapacidade de acessar e consumir uma dieta nutritiva e diversificada na primeira infância, segundo o Unicef -
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Setor alimentício promove iniciativas para apoiar dietas mais nutritivas

Grandes empresas do setor alimentício têm promovido mudanças nas estratégias de marketing e no portfólio de produtos, a fim de reduzir as quantidades de sal, açúcares e gorduras trans, apontados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como fatores que contribuem para dietas inadequadas.

A Nestlé, por exemplo, anunciou em escala global o lançamento de alimentos e bebidas mais nutritivos e a menor quantidade de ingredientes prejudiciais à saúde. Conforme informações do site da companhia, entre 2017 e 2020 os produtos da marca deixaram de usar mais de 8 mil toneladas de açúcares e mais de 390 toneladas de sódio, apenas no Brasil. A diretora da área científica e regulatória na empresa no país, Renata Delavy, afirma que a multinacional se comprometeu a ajudar 50 milhões de crianças no mundo a serem mais saudáveis até 2030, por meio do programa Nestlé por Crianças Mais Saudáveis, que promove educação alimentar em escolas, oferece dicas de nutrição equilibrada e de receitas saudáveis para as famílias, além de trabalhar na melhoria do perfil nutricional de seu portfólio de produtos.

"No Brasil, a iniciativa Nestlé por Crianças mais Saudáveis une forças com escolas, para apoiar pais e cuidadores em sua jornada na educação de crianças saudáveis. A iniciativa já beneficiou 3 milhões de crianças diretamente", afirma Renata. Desde 2018, a empresa premiou 70 projetos no âmbito do Prêmio Crianças Mais Saudáveis. "Neste ano, o concurso vai eleger dez escolas públicas de Ensino Fundamental que melhor promovam um ou mais dos cinco hábitos que são nossos pilares: alimentação nutritiva e variada, brincar ativamente, beber mais água, curtir as refeições juntos e porcionar para comer melhor", explica a diretora.

A Danone é outra multinacional do setor que investe em produtos mais nutritivos e promove cursos, palestras e fóruns de discussões com os profissionais da saúde. Conforme a diretora médica da empresa, Ana Grubba, a organização tem uma equipe especializada de cientistas, nutricionistas e médicos parceiros para promover soluções e apoiar os pais na oferta de uma dieta mais saudável aos seus filhos. "Temos metas focadas na redução do açúcar e na melhoria da nutrição para crianças, evoluindo nossos compromissos nutricionais anteriores (2016-2020) e alinhando-os com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS), especialmente os 2 e 3 (erradicar a fome e promover a saúde e bem-estar)", afirma. A Danone, dessa forma, comprometeu-se a garantir o acesso a alimentos seguros e nutritivos e a assegurar um sistema de produção de alimentos sustentável, bem como fornecer a melhor nutrição e hidratação, por meio de todas as suas categorias de produtos, para todas as fases da vida.

Grubba explica que a unidade de Nutrição Especializada da Danone nasceu com um portfólio com mais de 220 itens de marcas reconhecidas em nutrição infantil, alergia, soluções nutricionais para adultos e para contribuir com o envelhecimento saudável. "São marcas inovadoras, fundamentadas pela ciência, resultado de mais de 100 anos em pesquisa e desenvolvimento nas áreas de nutrição especializada", enfatiza.

Imagem Divulgação - Créditos NewAfrica -


Hábitos começam a ser moldados na primeira infância

Variedade e forma como comidas são apresentados contribuem para o desenvolvimento físico e mental e para a formação do paladar

Na primeira infância, especialmente até o terceiro ano de vida, a nutrição adequada é fundamental para o desenvolvimento físico e mental das crianças. A variedade e a maneira como as comidas e bebidas são apresentados ajudam na formação do paladar e aumenta as chances de os pequenos e pequenas se tornarem adultos conscientes de suas escolhas alimentares. Além disso, uma alimentação adequada nessa fase reduz a mortalidade infantil e o risco de doenças crônicas ao longo da vida.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a amamentação exclusiva até os 6 meses de idade. Nesse ínterim, recém-nascidos não precisam, normalmente, receber nenhum outro alimento sólido ou líquido, nem mesmo água. Contudo, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda ministrar vitamina D aos bebês a partir da primeira semana de vida e até os dois anos de idade, diariamente. Outra orientação é a de proporcionar suplementação de ferro, a partir dos 3 meses de idade, para as crianças com risco para deficiência desse nutriente.

Aos 6 meses chega o momento de introduzir na dieta dos pequenos, aos poucos, outros alimentos nutritivos, sem deixar de oferecer o leite materno. O bebê precisa experimentar diferentes cheiros, cores, sabores e texturas, em opções como frutas, legumes, cereais, carnes e ovos. O presidente do departamento científico de pediatria ambulatorial da SBP, Tadeu Fernandes, enfatiza que a alimentação complementar deve ser diversificada, adaptada a cada região do Brasil e seguir a pirâmide da SBP.

As iguarias oferecidas devem ser amassadas apenas com um garfo, para que as crianças comecem a se acostumar com a consistência e aceitem itens mais sólidos no futuro. Em seu Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de Dois Anos, o Ministério da Saúde recomenda evitar sucos - oferecer a fruta é sempre melhor – assim como qualquer produto que contenha açúcar antes dos 2 anos.

Entre os 7 e 8 meses, os bebês já podem consumir alimentos com consistência mais firme, em pedaços pequenos. Nessa etapa, devem receber quatro refeições por dia: almoço e jantar e dois lanches (contendo frutas). Entre 9 e 11 meses de idade, eles já conseguem mastigar melhor os alimentos mais duros, e o hábito de as crianças cortá-los com os dentes da frente deve ser encorajado, para estimular o desenvolvimento da mandíbula.

Entre 1 e 2 anos de idade, os bebês continuam a aprimorar sua capacidade de mastigar comidas ainda mais sólidas, mas podem rejeitar alguns alimentos que antes gostavam. É preciso ter paciência e continuar a oferecer a opção de tempos em tempos – uma alternativa pode ser a de preparar o produto de forma diferente. "A alimentação das crianças pode ser igual à da família, desde que esta seja boa e saudável. A transição de papa e comidas especialmente preparadas para os pequenos, a partir de 1 ano de idade, para a comida igual à dos adultos pode ser uma oportunidade para melhorar a nutrição de toda a família ", indica Tadeu Fernandes. A recomendação é que nessa idade a criança receba cinco refeições diárias (as três principais e dois lanches) além do leite materno. Em alguns dias da semana, a fruta do lanche da tarde pode ser substituída por raízes e tubérculos, como mandioca, batata doce, inhame, ou por um alimento do grupo de cereais, como o pão, ou ainda por legumes e verduras.

24 meses

A partir dos 2 anos, a velocidade de crescimento das crianças reduz, e o apetite também pode diminuir. Por isso, elas devem ser incentivadas a comer, mas sem que isso signifique pressioná-las ou forçá-las a ingerirem o que não querem. Também não é recomendado recorrer a recursos eletrônicos para distraí-las durante as refeições. Uma boa estratégia é variar as formas de preparo e de apresentação para tornar o alimento mais atrativo. "Se não puder haver interação com os pais no almoço porque trabalham fora, pelo menos o jantar deve ser feito em família, com a televisão desligada, para resgatar o sentido de união", recomenda Fernandes.

Deve-se usar o mínimo possível de sal e continuar a evitar o açúcar, segundo o Ministério da Saúde. Crianças que não consomem alimentos com açúcar nos primeiros 2 anos de vida tendem a aceitar bem o leite puro ou iogurtes naturais, por exemplo. Ainda segundo o MS, deve-se limitar a ingestão de processados, como enlatados, queijos e conservas, e banir completamente os ultraprocessados das dietas dos bebês, como bolachas, sucos artificiais, salgadinhos de pacote, refrigerantes, macarrão instantâneo e guloseimas.

O Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos, elaborado pelo Ministério da Saúde, traz informações detalhadas sobre como cuidar da alimentação nessa importante fase da vida. A edição, bem como sua versão resumida, pode ser encontrada no site do Ministério da Saúde. Acesse aqui.

Alimentação saudável de crianças menores de 2 anos
  1. Apenas leite materno até os 6 meses e amamentar até 2 anos ou mais.
  2. Oferecer alimentos in natura ou minimamente processados, além do leite materno, a partir dos 6 meses.
  3. Oferecer água em vez de sucos, refrigerantes e outras bebidas açucaradas.
  4. Oferecer comida amassada quando a criança começar a comer outros alimentos além do leite materno.
  5. Não oferecer preparações ou itens que contenham açúcar até os 2 anos.
  6. Não oferecer alimentos ultraprocessados.
  7. Cozinhar a mesma comida para a criança e para a família a partir de 1 ano.
  8. Zelar para que a hora da alimentação seja um momento de experiências positivas, aprendizado e afeto.
  9. Prestar atenção aos sinais de fome e saciedade e conversar com a criança durante a refeição.
  10. Cuidar da higiene em todas as etapas da alimentação da criança e da família.
  11. Oferecer alimentação adequada e saudável também fora de casa.
  12. Proteger a criança da publicidade de alimentos.
FONTE: Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos/ Ministério da Saúde
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PREVENÇÃO

Brasil registra aumento na imunização infantil

Após anos de retrocesso, levantamentos indicam progresso no número de crianças vacinadas no País

O Brasil registrou aumento na taxa de vacinação infantil e finalmente saiu do ranking dos 20 países com mais crianças não vacinadas do planeta, segundo o último relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sobre o tema, divulgado neste mês de julho. No país, o número de crianças que não receberam nenhuma dose da DTP1 (que protege contra difteria, tétano e coqueluche) diminuiu de 687 mil em 2021 para 103 mil em 2023. Além disso, o número de brasileirinhos que não receberam a DTP3 passou de 846 mil em 2021 para 257 mil em 2023.

Segundo o Ministério da Saúde, 13 das 16 principais vacinas do calendário infantil apresentaram aumento das suas coberturas no ano passado em comparação com 2022. A que registrou o maior incremento foi a de reforço da tríplice bacteriana (difteria, tétano e coqueluche), cuja cobertura passou de 67,4% para 76,7%. Ainda assim, abaixo da meta nacional. É necessário vacinar pelo menos 95% da população para garantir um nível de proteção coletiva que impede surtos e epidemias.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Clóvis Francisco Constantino, o desafio da conscientização sobre a importância da imunização é complexo e multifacetado. Dentre as causas da queda nos índices, segundo ele, estão a desinformação sobre segurança e efeitos colaterais das doses; os obstáculos logísticos, como horários restritos de postos de saúde; o desabastecimento de vacinas; e, a complexidade do calendário vacinal. "A SBP tem sido proativa em abordar a baixa cobertura vacinal para doenças já erradicadas, como poliomielite e sarampo, que correm o risco de retorno", afirma o Clóvis. "Como pediatras, devemos enfatizar a importância das vacinas, esclarecendo dúvidas e combatendo mitos, garantindo que as informações cheguem às famílias de maneira clara e de fontes confiáveis", completa.

Segundo o Ministério da Saúde, a disseminação de fake news é um dos fatores que prejudica a adesão às campanhas vacinais. Além disso, muitas pessoas perderam a percepção do risco e das consequências que algumas dessas doenças graves podem ter sobre a criança.

Riscos

Os baixos índices de vacinação no País desde 2016 aumentam o risco do retorno de doenças que há décadas haviam sido eliminadas do território brasileiro, como a poliomielite, que pode levar à paralisia infantil e à morte. A taxa de imunização contra a enfermidade em 2022 foi de apenas 72%. Naquele período, 243 mil crianças deixaram de receber a primeira dose da vacina, mas no último ano a cobertura voltou a 84%. Outro exemplo diz respeito ao sarampo que, com o recuo na vacinação contra a enfermidade, voltou ao País, onde já era considerada erradicada. Em 2018, a cobertura vacinal atingiu menos de 75% do público-alvo, o que se traduziu, em 2019, na ocorrência de mais de 20 mil casos. Felizmente, a doença voltou a ficar controlada a partir de 2021 e, já em 2023, 93% da população alvo recebeu a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), próximo da meta de 95%.

Calendário para todos

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde brasileiro é reconhecido mundialmente pela sua qualidade e abrangência. Ele viabiliza gratuitamente, no Sistema Único de Saúde (SUS) 48 imunobiológicos, 31 vacinas, 13 soros e 4 imunoglobulinas. Essas vacinas incluem tanto as presentes no calendário nacional de vacinação quanto as indicadas para grupos em condições clínicas especiais. No âmbito do programa, o Calendário Nacional de Vacinação inclui 20 imunizantes que protegem o indivíduo em todos ciclos de vida, desde o nascimento. Para conhecê-lo, basta visitar a página oficial do Ministério da Saúde, no link aqui.

Odontopediatria: hábitos saudáveis começam na infância

Os cuidados com a saúde bucal estão entre os principais hábitos que devem ser construídos na infância. Quando surge o primeiro dente de leite, entre os 6 aos 10 meses, os pais devem iniciar a higienização da boca do bebê. Devem fazer isso com uma escova macia e uma pequena quantidade de pasta com flúor, mais ou menos do tamanho de um grão de arroz.
A erupção dos dentes de leite pode causar febre, diarreia e irritação e, nesses casos, mordedores, massagens e alimentos gelados ajudam a aliviar o desconforto. É nessa fase, também, que os pais devem levar o bebê para a primeira consulta com o odontopediatra. Além de avaliar o desenvolvimento dental da criança, o profissional irá orientar sobre cuidados preventivos e estabelecer a frequência das consultas. Nessas visitas, o dentista pode realizar limpeza, aplicação de flúor ou outras medidas preventivas.

Por volta dos 3 anos de idade, a dentição está completa - são 20 dentes de leite no total. A partir dos 5 ou 6 anos, começa a troca deles pelos permanentes, e até os 12 anos a criança deve ter 28 dentes. Os cisos nascem por volta dos 18 anos.

Além de boa higienização e consulta regular ao dentista, é importante evitar doces e alimentos ultraprocessados, além de chupetas, bicos e mamadeiras, que podem prejudicar o alinhamento dos dentes e a mastigação, a deglutição e a fala. Conforme o Ministério da Saúde, mamar no peito contribui para o desenvolvimento da musculatura e ossos da face, evitando problemas no posicionamento da dentição.

A Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (ABOR) recomenda fazer a primeira avaliação ortodôntica aos 7 anos, a menos que os pais notem um problema antes disso, independentemente da idade. Na infância, diagnosticar precocemente o mau posicionamento e iniciar o tratamento adequado.

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ATIVIDADE FÍSICA

Faz bem para a saúde, para o aprendizado e para o comportamento

Quatro a cada cinco adolescentes entre 11 e 17 anos não cumprem as recomendações mínimas em relação às práticas diárias

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define atividade física como todo movimento com gasto de energia, incluindo durante o tempo de lazer, como meio de transporte ou como parte do trabalho e dos afazeres domésticos de uma pessoa. Mais do que isso, sinaliza que a prática delas é capaz de ajudar a prevenir e controlar doenças não transmissíveis, que são as que mais matam no mundo, como as cardíacas, a hipertensão, os Acidentes Vasculares Cerebrais, as diabetes e vários tipos de câncer, e a enfrentar outros problemas em evidência nos dias de hoje, como o da depressão.

Além disso, ajuda a manter um peso corporal saudável e pode melhorar a saúde mental, qualidade de vida e bem-estar. Por todos esses motivos, são óbvias também as razões para que crianças insiram as atividades físicas de forma regular no seu dia a dia, embora, hoje, uma meta análise no jornal científico The Lancet Child & Adolescent estime que, globalmente, 81% dos adolescentes de 11 a 17 anos não atenda às diretrizes atuais de atividade física, ou seja, aproximadamente quatro a cada cinco nessa faixa etária. Os motivos para a negligência são múltiplos, mas passam por padrões de transporte, o uso de tecnologia para trabalho e lazer, valores culturais e aumento do sedentarismo.

Este último comportamento refere-se ao tempo gasto sentado ou deitado, sem contar as horas de sono. Na primeira infância, brincar, andar de bicicleta e caminhar geralmente cumprem os requisitos mínimos de atividade recomendados pela OMS e pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Na adolescência, a inclusão de programas estruturados de condicionamento físico e exercícios de resistência torna-se essencial não apenas para saúde física, mas também para o desempenho acadêmico, comportamento social, a qualidade do sono e bem-estar mental.

Clóvis Francisco Constantino, presidente da SBP, reforça que atividades físicas regulares, além de ajudarem a prevenir as doenças anteriormente citadas e a obesidade, também estimulam o sistema imunológico e moderam o colesterol. Todavia, ele recomenda que sejam adequadas à fase do desenvolvimento das crianças e dos adolescentes para evitar lesões e sobrecarga. Dos 2 aos 5 anos, por exemplo, o objetivo é a socialização, e assim deve-se priorizar a coordenação motora com brincadeiras supervisionadas ou dirigidas, como caminhar até a escola, correr, pular cordas, brincar com bola, andar de bicicleta e participar de escolinhas esportivas. Entre os 5 e 10 anos, as crianças devem ser incentivadas a praticar esportes como natação, futebol, capoeira, surfe, skate, danças, ginástica e lutas, uma vez que apresentam maior habilidade motora, agilidade e coordenação. Entre os 10 e 12 anos, o foco é a velocidade, época em que são recomendados esportes como atletismo e o ciclismo. A partir da puberdade, o pré-adolescente pode priorizar fazer exercícios de resistência e alta intensidade, como jogos de quadra, judô, tênis e outros.

Cognição

Conforme a OMS, atividades físicas regulares de intensidade moderada e/ou vigorosa estão associadas também ao melhor desempenho cognitivo, ou seja, acadêmico, executivo e funcional. Ademais, são altamente benéficos para crianças e adolescentes com condições relacionadas ao neurodesenvolvimento, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).


Sono insuficiente prejudica a saúde mental e o crescimento

Quando se trata de sono, qualidade e quantidade fazem diferença porque afetam diversos aspectos da saúde física e mental das crianças e adolescentes, entre eles, o crescimento, o sistema imunológico, o aprendizado, a memória e o humor. Durante o descanso, o cérebro consolida memórias e processa informações aprendidas ao longo do dia. Além disso, a produção de hormônios de crescimento ocorre predominantemente durante o sono profundo.

Resultados preliminares de um estudo na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos indicam que os pré-adolescentes que dormiam menos de nove horas por dia tinham menos massa cinzenta ou menor volume em certas áreas do cérebro responsáveis pela atenção, memória e controle de inibição, em comparação com aquelas com hábitos de sono saudáveis. Também apresentavam mais desafios de saúde mental e comportamentais, como impulsividade, estresse, depressão, ansiedade e comportamento agressivo. Publicado no Lancet Child & Adolescent Health em 2022, o estudo, ainda em andamento, avalia 12 mil pessoas com idades entre 9 e 10 anos.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda aos pais a criação de uma rotina calma para que seus filhos tenham um sono reparador. É essencial evitar estimulantes e o uso de telas antes de dormir, limitar a ingestão de líquidos à noite, criar um ambiente tranquilo e manter horários regulares, mesmo nos fins de semana. Segundo o presidente da SBP, Clóvis Francisco Constantino, há recomendações específicas de tempo de sono para cada faixa etária (veja na tabela ao lado). "Essas recomendações devem ser ajustadas às necessidades individuais para assegurar que as crianças e adolescentes acordem descansados e sem sonolência excessiva", afirma.


Tempo de sono recomendado pela SBP para diferentes faixas etárias:


Faixa Etária Tempo de Sono Recomendado
Bebês (4 até 12 meses) 12 a 16 horas diárias
Crianças de 1 a 2 anos 11 a 14 horas diárias
Crianças de 3 a 5 anos 10 a 13 horas diárias
Crianças de 6 a 12 anos 9 a 12 horas diárias
Adolescentes 8 a 10 horas diárias

FONTE: SBP, adaptado de Consensus Statement of the American Academy of Sleep Medicine
A Organização Mundial de Saúde recomenda que crianças e adolescentes de 5 a 17 anos realizem pelo menos 60 minutos por dia de atividade física de intensidade moderada a vigorosa, principalmente aeróbica, e que pelo menos três vezes por semana incorporem à rotina práticas que fortaleçam músculos e ossos -
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CONEXÕES

O desafio de controlar o tempo diante das telas

O excesso no uso de dispositivos eletrônicos pode acarretar problemas físicos, emocionais e comportamentais

As telas fazem parte da rotina de aprendizagem e diversão de crianças e adolescentes, mas o uso excessivo de computadores, tablets e smartphones, televisão e videogames pode trazer problemas físicos, emocionais e comportamentais. O presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Clóvis Francisco Constantino, destaca que os dispositivos eletrônicos podem ser valiosos para a comunicação com parentes distantes, a leitura, o estudo e o acesso a plataformas educativas. No entanto, ressalta a importância de usá-los com moderação para evitar danos à saúde. No que diz respeito ao bem-estar mental, o excesso de telas pode acarretar o aumento de ansiedade, depressão e outros distúrbios, além de impactos no desenvolvimento cognitivo.

Outros reflexos negativos, segundo Clóvis, especialmente quando as mídias são consumidas sem supervisão, podem incluir transtornos do sono, distúrbios da imagem corporal e da autoestima, problemas posturais e musculoesqueléticos, sobrepeso/obesidade, anorexia/bulimia, sedentarismo, bullying, dependência digital e uso problemático das mídias sociais. Em razão disso tudo, ele indica a necessidade de estabelecer limites claros para o acesso aos dispositivos e de incentivar outras atividades, como ler livros (não digitais), brincar ao ar livre e passar tempo com a família e amigos. "Muitos dos problemas ocorrem porque essas mídias preenchem vácuos como ócio, tédio, necessidade de entretenimento e abandono afetivo", afirma o presidente da SBP.

A entidade recomenda evitar totalmente a exposição de crianças menores de 2 anos aos dispositivos e limitar o acesso a no máximo 1 hora por dia para as com idades entre 2 a 5 anos. Entre os 6 e 10 anos, o uso não deve superar 2 horas diárias. Já para adolescentes (11 a 18 anos), a recomendação é de, no máximo, 3 horas, e evitar jogar videogames à noite. É importante também não fazer uso de dispositivos eletrônicos durante as refeições e desligá-los uma a duas horas antes de dormir.

Pais

Reduzir o tempo de tela quando a criança ou adolescente está acostumado a passar muitas horas com elas pode ser bastante desafiador. Nesse caso, o primeiro passo é conversar francamente sobre o tema. "É essencial que os pais iniciem um diálogo aberto sobre os efeitos negativos do uso excessivo de telas, de forma a explicar e estabelecer claramente os novos limites. Eles devem dar o exemplo, reduzindo seu próprio tempo de tela e aumentando a interação direta com as crianças", aconselha o presidente da SBP. Clóvis também recomenda incentivar atividades como leitura, exercícios físicos, brincadeiras ao ar livre e envolvimento em tarefas domésticas para ajudar na transição. "Essas mudanças requerem paciência, diálogo contínuo e ajustes conforme necessário para que se adaptem de forma saudável e eficaz", orienta.

Preocupação

Estudos recentes indicam que o tempo despendido por crianças e adolescentes com recursos eletrônicos e/ou digitais cresceu significativamente, e alcançou uma média de mais de 7 horas por dia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso faz do tema uma preocupação global.

No Brasil, pessoas dedicam em média 9 horas diárias ao uso da internet, segundo um levantamento feito pela Eletronicshub. Com relação a crianças e adolescentes, a última edição do estudo da TIC Kids Online, do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), mostrou que 95% dos brasileiros com idades entre 9 e 17 anos acessam a internet, e que o primeiro contato com a rede mundial de computadores costuma ocorrer muito cedo: em 24% dos casos, ele se deu antes dos 6 anos de idade. Em 2015, esse indicador era de apenas 11%.

Em março passado, o Governo Federal instituiu um Grupo de Trabalho (GT) para elaborar um guia para uso consciente de telas e dispositivos digitais por crianças e adolescentes, que deve ser lançado ainda este ano. A futura publicação, cuja confecção foi atribuída a um amplo e múltiplo conjunto de especialistas, será um documento oficial com análises e recomendações sobre o tema, baseado em evidências científicas e melhores práticas internacionais, e a partir dele serão produzidas cartilhas, campanhas e processos formativos para crianças, jovens, pais, educadores/as e outros públicos específicos.

Problemas relacionados ao uso excessivo ou indevido das telas
  • Distúrbios de atenção, atrasos no desenvolvimento cognitivo e da linguagem, miopia, sobrepeso, problemas do sono, autolesões, suicídios, e aumento dos índices de ansiedade e depressão – especialmente entre meninas
  • Ampliação dos riscos de abuso, exposição a conteúdos impróprios e vitimização sexual
  • Ameaças à privacidade e ao uso de dados pessoais infantis
  • Risco de desenvolvimento de vício, especialmente em jogos eletrônicos

FONTE: SECOM
Como proteger os olhos do seu filho

O uso excessivo de telas pode levar à “fadiga ocular digital”. Trata-se de um conjunto de sintomas que podem incluir ressecamento e irritação dos olhos, dores de cabeça, visão turva, cansaço ocular e/ou fotofobia. Se a criança ou adolescente apresentar algum desses sintomas, os pais e responsáveis devem levá-la a um oftalmologista. Há outras recomendações que podem ajudar a minimizar possíveis problemas:

  • Fazer pausas no uso de telas a cada 20 minutos por pelo menos 20 segundos, olhando para uma distância de até 6 metros
  • O brilho da tela deve ser ajustado para corresponder à iluminação do ambiente
  • Posicionar o dispositivo longe de janelas e fontes de luz direta para reduzir o brilho
  • Configurar o dispositivo para o modo noturno
  • Passar tempo ao ar livre, para expor os olhos à luz natural
  • Limitar o tempo de tela à noite e estabelecer um horário para desligá-la
  • O uso de lágrimas artificiais ajuda a manter os olhos úmidos, reduzir o ressecamento e aliviar o desconforto, mas deve ser usado com orientação médica
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*Conteúdo produzido pela Point e publicado no jornal Folha de S.Paulo em 27/07/24



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Edição: Las Miradas Comunicação | Maria Matheus de Andrade | Gustavo Dhein

Layout e editoração eletrônica: Manolo Pacheco / Sergio Honorio


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