*Conteúdo produzido pela Point e publicado no jornal Folha de S.Paulo em 17/10/2024
Domingo, 17 de outubro de 2024
Domingo, 17 de outubro de 2024
Os dados disponíveis sobre cooperativas de crédito (ou cooperativas financeiras) no mundo e no Brasil reforçam os motivos para a celebração marcada para hoje, 17 de outubro, Dia Internacional dedicado à modalidade. Promovida pelo Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito (ou World Council of Credit Unions – Woccu) há 76 anos, a efeméride enaltece as conquistas e o fortalecimento do setor, mas especialmente o espírito colaborativo que permeia as ações e soluções oferecidas por ele. O presidente do Sistema OCB (Sistema Organização das Cooperativas Brasileiras), entidade que trabalha para qualificar e difundir cada vez mais o cooperativismo no Brasil, Márcio Lopes de Freitas, pondera que a data é momento para reconhecer o papel transformador que esse modelo de negócios colaborativo desempenha na vida de milhões de pessoas.
Diferenciais inerentes às cooperativas de crédito motivam adesões em ritmo forte
Supervisão e transparência reforçam a confiança e a segurança dos cooperados
Instituições expandem investimentos em favor do desenvolvimento sustentável
Campanha alerta sobre golpes digitais
Modelo preserva essência dos pioneiros, mas renovou-se para manter-se pertinente
Originadas ainda no século XIX na Alemanha, e presentes no Brasil desde 1902, as cooperativas de crédito são formadas, desde sempre, por meio da associação de pessoas que são, simultaneamente, suas donas e usuárias. Ou seja, os cooperados, como “sócios”, participam da gestão das organizações, ao mesmo tempo em que usufruem os produtos e serviços, cada vez mais variados e qualificados, disponibilizados por elas. Essa condição, segundo o César Bochi, diretor presidente do Banco Cooperativo Sicredi, uma das instituições gigantes do setor no Brasil, promove sensos de pertencimento e participação, e administrações mais democráticas e alinhadas aos interesses das comunidades. “Especialmente no Brasil, o cooperativismo de crédito se destaca por sua capacidade de promover inclusão financeira, de estimular o desenvolvimento local e de oferecer uma relação próxima e transparente com seus públicos”, continua o executivo.
Cooperativas de crédito disponibilizam soluções semelhantes às oferecidas pelos bancos comerciais (como contas correntes, aplicações financeiras, cartão de crédito, empréstimos, consórcios e financiamentos, etc.), mas, normalmente, com taxas mais baixas e retornos mais favoráveis. Ênio Meinen, diretor de Coordenação Sistêmica, Sustentabilidade e Relações Institucionais do Sicoob, outra das principais instituições financeiras do setor no Brasil, explica que, dado que nas cooperativas os usuários dos serviços são também os donos do empreendimento, o modelo, baseado na autoajuda e que não tem o lucro como prioridade, permite uma precificação mais atrativa/justa dos portfólios operacionais, com benefícios econômicos expressivos.
Esse conjunto de atributos (detalhados à página 2) justifica a busca de cada vez mais pessoas pelo cooperativismo financeiro. Segundo a Woccu, o ramo já registra mais de 82,7 mil instituições no planeta, e a elas estão vinculados pelo menos 403 milhões de associados e 3,6 trilhões de dólares em ativos. Ainda, a taxa de penetração média das cooperativas de crédito chega a 13,5% globalmente, percentual calculado dividindo-se o número total de membros pela população economicamente ativa com idades de 15 a Diferenciais do modelo, baseado em princípios mundialmente consolidados, e oferta de soluções qualificadas justificam avanços 64 anos. Os dados – que são os mais atuais disponibilizados – referem-se a dezembro de 2022, mas permitem visualizar a intensidade do crescimento do setor. Uma década atrás – em 2012, portanto – havia 56 mil cooperativas, os associados totalizavam 200 milhões, os ativos eram de 1,7 trilhão de dólares e a penetração era de apenas 7,2%. No Brasil, as estatísticas disponibilizadas no BureauCoop, Painel de Dados do Cooperativismo Financeiro, evidenciam a pujança das instituições localmente. Os ativos totais delas – ou seja, o conjunto de bens, valores, créditos e semelhantes que formam o patrimônio de uma instituição – já superam os R$ 731,7 bilhões em 2024, 561,6% mais do que em 2014. Os depósitos – operações em que uma cooperativa recebe quantias, mantendo-as sob sua guarda e obrigando-se a restitui-las quando solicitado pelos depositantes ou em data prefi xada –, por sua vez, no mesmo intervalo, ampliaram-se em 670,7%, isto é, passaram de R$ 61,7 para bilhões para R$ 475,5 bilhões. A carteira de crédito – que indica o saldo das operações desse tipo, incluindo as contratadas nos segmentos livre e direcionado – era de R$ 67,7 bilhões há uma década e, neste ano, ultrapassou R$ 409,1 bilhões, numa evolução de 504,3%.
Ano | Ativos Totais | Carteira de Crédito | Depósitos Totais | Cooperados (milhões) |
---|---|---|---|---|
2014 | 110,6 | 67,7 | 61,7 | - |
2015 | 130,5 | 76,0 | 74,8 | - |
2016 | 154,2 | 83,6 | 92,2 | 8,9 |
2017 | 178,5 | 95,9 | 107,9 | 9,7 |
2018 | 210,6 | 118,3 | 129,6 | 10,6 |
2019 | 245,7 | 149,0 | 151,9 | 11,6 |
2020 | 337,9 | 202,7 | 221,3 | 12,8 |
2021 | 425,4 | 277,4 | 266,9 | 14,7 |
2022 | 549,7 | 336,7 | 343,2 | 17,0 |
2023 | 669,7 | 388,8 | 421,4 | 19,1 |
2024 | 731,7 | 409,1 | 475,2 | - |
O desempenho operacional do setor também impressiona, e passa pelo incremento constante nas redes de atenção presencial. O Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC), do Banco Central, apurou existirem, COOPERATIVAS DE CRÉDITO ao final de 2023, pelo menos 9,8 mil postos de atendimento e agências – 7,6% mais do que no ano precedente. Com isso, elas estão fisicamente em 3.177 localidades da federação, ou seja, 57% do total, e superam o número de estabelecimentos mantidos por bancos “convencionais”.
A ampliação da malha é necessária, entre outros motivos, para dar conta da expansão nas adesões dos brasileiros às cooperativas. Em 2024, tanto o Sicredi, quanto o Sicoob, anunciaram ter ultrapassado 8 milhões de associados cada.
Em setembro passado, as instituições que compõem o SNCC já computavam, juntas, 20,3 milhões de pessoas físicas ou jurídicas vinculadas a elas, praticamente o dobro do registrado há apenas cinco anos, segundo o BureauCoop. “O cooperativismo no Brasil está em franco crescimento e, no setor financeiro, isso é particularmente evidente. Vemos um aumento substancial na adesão ao modelo por parte da sociedade. O cenário atual é promissor, mas há desafios a serem superados para garantir que esse crescimento continue de forma sustentável”, avalia o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas. Ele aponta que um dos principais obstáculos existentes é a falta de conhecimento sobre o modelo cooperativo por grande parte da população, e que superá-lo é crucial para que mais pessoas se sintam atraídas a ingressar no movimento. “Também temos desafios regulatórios que precisam ser enfrentados, como a necessidade da simplificação de processos e a redução da burocracia. Por outro lado, as oportunidades são muitas. O cooperativismo de crédito tem o poder de expandir suas atividades para áreas geográficas e setores da economia ainda não plenamente atendidos pelo sistema financeiro tradicional. A digitalização também oferece um potencial relevante, e permite às instituições do SNCC ampliarem seus serviços de forma escalável e acessível”, avalia Márcio.
As idiossincrasias das cooperativas de crédito ajudam a compreender como elas funcionam, as aspirações e valores que as movem, e as razões pelas quais, a cada 12 meses, aproximadamente 2 milhões de brasileiros aderem a elas. “O primeiro grande diferencial do modelo é o de que, ao se associar a uma cooperativa, o usuário se torna também um dos donos da instituição. Isso significa que ele tem voz ativa nas decisões e participa dos resultados da cooperativa, que são redistribuídos entre os cooperados ou reinvestidos para melhorar os serviços”, observa Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB. Ou seja, as aprovações das estratégias e das realizações de cada uma das instituições passa pelos seus associados, que têm poder igual de voto. “Essa estrutura inclusiva cria um forte senso de pertencimento e compromisso, o que fortalece a cooperação e o sucesso das cooperativas”, pondera o dirigente. Ademais, todos os membros têm o direito a uma fração das “sobras”, ou seja, uma parcela do saldo positivo financeiro obtido por uma instituição ao longo de um intervalo determinado de tempo. O valor a ser recebido por cada associado é proporcional às operações realizadas por ele.
Ênio Meinen, diretor de Coordenação Sistêmica e Relações Institucionais do Sicoob, detalha que os cooperados são os destinatários principais do resultado contábil/econômico de uma cooperativa como o Sicoob. Eles, nos primeiros quatro meses de cada ano, também avaliam o resultado da gestão e definem as prioridades para o novo exercício. Em seu site, o Sicoob explica que, depois de encerrada a fase de prestação de contas aos associados, eles votam pela aprovação ou não delas, e sobre a forma em que a distribuição das sobras será realizada. No caso das cooperativas, parte das sobras líquidas é destinada ao Fundo de Reserva, que permite que a instituição financeira realize as suas operações, enquanto outros 5% são obrigatoriamente encaminhados ao Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social (Fates), cujos recursos são dedicados a ações em benefício dos associados, seus familiares e, quando previsto nos estatutos sociais, aos empregados e às comunidades em que as instituições estão presentes. Por exemplo, se houver sobras de R$ 10 milhões, 20% podem ser destinadas ao Fundo de Reserva, 5% ao Fates e 75% são divididas entre os cooperados.
Outra forma pela qual associados são favorecidos financeiramente ao optarem pelas cooperativas de crédito decorre do benefício econômico atrelado diretamente ao fato de que as instituições do setor não priorizam o lucro, mas o bem-estar e os interesses dos seus integrantes. Por isso, elas cobram, normalmente, taxas e tarifas menores (de juros e por serviços, por exemplo) e oferecerem melhores condições/retornos do que entidades tradicionais do sistema financeiro. “A título de exemplo, no fornecimento de empréstimos com juros que não são controlados oficialmente (crédito livre), a taxa praticada pelas cooperativas corresponde, em média, a 70% do que é cobrado pelo restante das instituições do sistema financeiro”, explica Ênio.
O Sicredi, para se ter uma ideia, calculou, com base em metodologia do Banco Central, em R$ 16,2 bilhões o Benefício Econômico de Crédito (BEC) viabilizado aos seus associados em 2023. O indicador mensura a economia sobre operações de crédito por meio de taxas médias mais baixas em comparação as instituições do Sistema Financeiro Nacional. Já o Benefício Econômico do Depósito (BED), que mostra o ganho adicional com depósitos por meio de remuneração mais elevada do que a praticada nas demais instituições do SFN, foi de R$ 3,9 bilhões naquele mesmo período.
No Sicoob, a economia comparativa foi de mais de R$ 30 bilhões em 2023, o que representou benefício médio de R$ 5,2 mil para cada cooperado - aumento de 15,38% em relação ao período anterior.
“As cooperativas têm fortes raízes territoriais. Organizadas para prestar serviços aos seus membros, integram o que designamos de ´negócio local´ ou ‘negócio da comunidade´. Para além disso, o atendimento aos membros, como proprietários que são, é diferenciado (não importando a condição econômica), e as soluções operacionais tendem a ser compatíveis com a expectativa dos usuários”, descreve Ênio Meinen, diretor de Coordenação Sistêmica, Sustentabilidade e Relações Institucionais do Sicoob. A proximidade com os cooperados e comunidades, segundo ele, aliada à disponibilidade de todos os produtos financeiros com preços módicos, torna efetivo também o processo de inclusão (com justiça) financeira, sobretudo de trabalhadores, aposentados e pequenos negócios, públicos muitas vezes desassistidos ou apenas parcialmente assistidos pela indústria bancária. Ênio acrescenta, ainda, que, em períodos de crise ou adversidade, as instituições do setor mantêm a normalidade de seu atendimento, sobretudo quanto ao fornecimento de crédito para indivíduos e pequenos negócios, enquanto os demais agentes costumam recolher-se em razão do maior risco às exposições.
A proximidade entre cooperativas, cooperados e comunidades é evidente, inclusive, no incremento da presença física das instituições em cidades brasileiras. De acordo com o Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo, do Banco Central, o SNCC respondia por pelo menos 9,8 mil unidades de atendimento in loco no final de 2023 e, em aproximadamente 400 localidades do país elas são as únicas estruturas de instituições financeiras presentes para receber a população. O incremento contraria o movimento adotado por instituições financeiras como os bancos, que optaram, nos últimos períodos, por fechar unidades (mais de 2,8 foram encerradas em 3 anos). Isso não significa, porém, que as cooperativas não estejam de olho no mundo digital. O Sicoob, que é dono da maior rede de atendimento presencial do país, com mais de 4,6 mil agências, por exemplo, dispõe também de todos os canais de relacionamento digital nos mesmos níveis de qualquer banco ou fintech.
Na mesma linha avança o Sicredi. No mês de março passado, a organização ultrapassou a marca de 2 mil cidades atendidas por 2,8 mil agências ou postos físicos, e ela mantém a previsão de abrir 200 unidades por ano, sem esquecer da potencialidade de novas soluções virtuais. “Estamos entrando em novos municípios, tanto urbanos quanto rurais, onde a presença física ainda é essencial para promover a inclusão financeira e fortalecer o relacionamento com os associados, aliada com a crescente digitalização. Uma de nossas premissas é promover o relacionamento ´fisital ´ – união dos canais para uma experiência fluida, com mais pontos de contato. Do presencial ao online, tudo converge para um atendimento humano e próximo. Entendemos a tecnologia como um meio para levar o cooperativismo de crédito para mais pessoas, de forma escalável e eficiente”, contextualiza César Bochi, diretor presidente do Banco Cooperativo Sicredi.
“As cooperativas de crédito desempenham um papel crucial na promoção da inclusão financeira no Brasil, especialmente em áreas remotas ou menos desenvolvidas, onde as grandes instituições financeiras frequentemente não operam. Elas oferecem acesso ao crédito de forma justa e equilibrada, muitas vezes com condições mais favoráveis do que os bancos tradicionais. Isso fomenta o empreendedorismo, a criação de empregos e a melhoria da qualidade de vida em diversas regiões”, avalia o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas. O dirigente destaca que outro benefício garantido pelas cooperativas é a personalização do atendimento, uma vez que elas focam em relacionamentos de longo prazo e na construção de soluções que realmente atendam às necessidades dos associados. “Isso significa que elas buscam promover o bem-estar dos cooperados, oferecendo condições mais justas e produtos financeiros que fazem sentido para as comunidades onde atuam. Para pessoas jurídicas, por exemplo, oferecem flexibilidade e apoio para o crescimento dos negócios. Como as cooperativas conhecem profundamente a realidade local, elas são mais ágeis e acessíveis na concessão de crédito e na oferta de serviços financeiros”, relata.
O acesso de empreendedores novos ou já consolidados a soluções e recursos em condições mais justas e menos onerosas, aumenta as possibilidades para, por exemplo, empresários investirem em novas tecnologias, insumos, capacitações, etc. Crescem, assim, também, as vagas de trabalho e a renda, o consumo e a circulação de mercadorias e de pessoas dentro das localidades. “Cooperativas de crédito têm um compromisso com o desenvolvimento local. Elas reinvestem os recursos na própria comunidade, promovendo o crescimento de pequenos negócios e agricultores. Essa dinâmica gera um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico e social, amplamente reconhecido como um diferencial competitivo das cooperativas”, considera o presidente do Sistema OCB.
Ele relata que uma pesquisa realizada pela entidade em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisa (Fipe), e que será divulgada nos próximos dias, aponta que municípios que contam com a presença de cooperativas de crédito registraram um aumento de R$ 3.852 de seu Produto Interno Bruto por habitante (equivalente a 10% da média do PIB per capita nacional em 2022). Além disso, as instituições promovem, segundo o estudo, a abertura de 25,3 novos empregos por mil habitantes, bem como o registro de 3,2 novos estabelecimentos por mil habitantes. No que diz respeito à redução da pobreza e à inclusão financeira, o levantamento mostra que a presença de cooperativas de crédito reduz o número de famílias cadastradas nos benefícios do Programa Bolsa Família em 24,8 mil por mil habitantes, e promove um aumento de 3,2 matrículas por mil habitantes no ensino superior.
As cooperativas de crédito são autorizadas a atuar e supervisionadas pelo Banco Central (Bacen), autarquia de natureza especial, criado pela Lei nº 4.595/1964 e com autonomia estabelecida pela Lei Complementar nº 179/2021. O órgão trabalha para garantir a segurança e estimular a eficiência do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC), e cumpre as seguintes tarefas: normatização, com a definição das normas e dispositivos legais que regulam a criação, organização, operação e fiscalização das instituições; supervisão prudencial, que envolve o monitoramento da saúde financeira das organizações, com o intuito de identificar riscos e problemas potenciais; e, supervisão de conduta, que engloba a regulação de aspectos de comportamento de mercado e de pagamentos para agregar mais eficiência às cooperativas e garantir que os seus associados recebam produtos adequados.
Durante o evento BC UNEVozes, organizado pela Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras) para troca de informações entre o Banco Central e as instituições financeiras, o chefe-adjunto do Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições não Bancárias do Bacen, Ívens Miranda, afirmou que a supervisão intensiva e especializada nas atividades das cooperativas financeiras tem auxiliado na perenidade do segmento e é uma das explicações para o crescimento do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo acima da média das demais instituições financeiras nos últimos anos. “O Sistema Nacional de Crédito Cooperativo é um dos segmentos que tem a maior quantidade de linhas de defesa. A quantidade e a qualidade delas são algumas das motivações desse crescimento do cooperativismo de crédito. Observamos que houve uma evolução na capacitação dos dirigentes, no grau de maturidade, no desenvolvimento de controles internos, bem como de processos e de ferramentas de tecnologia”, ponderou.
Um fator importante para dar tranquilidade às pessoas vinculadas às instituições financeiras que compõem o SNCC é a existência do Fundo Garantidor do Cooperativismo (FGCoop), uma associação civil sem fins lucrativos, de abrangência nacional e com personalidade jurídica própria no âmbito do direito privado. Ele faz parte da ampla rede de proteção ao Sistema Financeiro Nacional e, segundo o seu próprio estatuto, tem como finalidades: preservar depositantes e investidores das instituições associadas, respeitados os limites e condições estabelecidos no seu regulamento; contribuir para a manutenção da estabilidade do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo; e, auxiliar na prevenção de crises sistêmicas no setor. Assim, além de monitorar e classificar os riscos das cooperativas associadas, o Fundo, em situações de intervenção ou liquidação de instituições, tem o papel de recuperar depósitos, limitados a até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ.
Um dos diferenciais do FGCoop é o de que, enquanto instituições financeiras tradicionais recorrem ao seu Fundo Garantidor de Créditos somente em situações de crise, o do cooperativismo é empregado também com abordagem preventiva. Ou seja, seus gestores aplicam uma metodologia própria de monitoramento capaz de identificar riscos de uma cooperativa enfrentar problemas financeiros com até um ano de antecedência. Isso possibilita a adoção das medidas necessárias para reverter o quadro adverso ao, por exemplo, realizar operações de incorporação de um empreendimento por outro integrante do SNCC com mais solidez financeira.
Outro instrumento de fiscalização e controle, e que agrega transparência à atuação das cooperativas singulares, das cooperativas centrais de crédito e das confederações de centrais, é a realização anual mandatória de auditorias que cobrem aspectos gerenciais e operacionais, com escopo especialmente definido para o setor. Esse trabalho é conduzido por organizações constituídas como cooperativas de terceiro nível que se dedicam exclusivamente a esse serviço ou, ainda, por empresas especializadas independentes. Ambas precisam ser previamente credenciadas pelo Banco Central, que também estabelece o escopo dos trabalhos e supervisiona a qualidade dos resultados.
No âmbito do próprio Sistema OCB, existe um Conselho Consultivo Nacional do Ramo Crédito (Ceco), cuja atuação é dedicada a contribuir, a partir da análise das particularidades e diferenciais do setor, com o desenvolvimento do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) e capturar o potencial existente para que ele continue a crescer. O órgão abriga diversas Câmaras Temáticas, que funcionam como fóruns permanentes de discussão e proposições de estratégias. Delas participam representantes de cada sistema cooperativo, das cooperativas independentes, da OCB e do FGCoop, uma diversidade que assegura o intercâmbio de perspectivas variadas, de conhecimentos e de informações sobre contextos regionais entre seus integrantes, o que enriquece discussões e decisões. O Ceco também objetiva estimular a cooperação entre as instituições financeiras – por exemplo, ao facilitar a troca de dados sobre questões operacionais, regulatórias, de governança, entre outras - e contribui para a atuação do Sistema OCB na representação dos interesses das cooperativas perante os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, para a definição de políticas, diretrizes e ações, e para a promoção de iniciativas que ampliem o impacto e a visibilidade das cooperativas.
O SNCC fortalece-se, ainda, com as discussões sobre a necessidade de atualização e/ou incorporação de novas regras e práticas, sempre que necessário, para que as cooperativas funcionem cada vez melhor e de maneira alinhada às demandas contemporâneas das próprias instituições, dos associados, mas também do mercado financeiro. Mudanças substanciais no segmento foram promovidas em 2022 com a aprovação da Lei Complementar 196, depois de muitos debates e contribuições por parte de autoridades e entidades setoriais e das próprias organizações. Ela alterou a Lei Complementar 130, de 2009, que havia instituído o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo, e buscou a modernização em três grandes frentes, especialmente: fomento às atividades e negócios das cooperativas e de seus cooperados; aprimoramento da organização sistêmica e a promoção do aumento da eficiência do setor; e qualificação da gestão e da governança das entidades do SNCC.
As medidas que passaram a vigorar determinaram, por exemplo, regras específicas sobre as confederações de serviços e estabeleceram um definitivo e claro alinhamento do controle, regulação e supervisão de todas as entidades do SNCC. Também passaram a permitir a concessão de créditos e garantia mediante operações de assistência e suporte financeiro por parte do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop). As novas regras tornaram impenhoráveis as quotas-parte de capital das instituições, que não podem mais ser objeto de penhora ou constrição judicial para o pagamento de dívidas dos cooperados, alteração que pôs fim a uma antiga controvérsia jurisprudencial. A LC 196/22 passou a permitir, ainda, pagamento de bônus e prêmios para a atração de novos associados, e definiu que a destinação dos recursos do Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social (Fates), para o qual cooperativas reservam pelo menos 5% dos resultados líquidos, podem ser utilizados em benefício de toda a comunidade da área de atuação de uma instituição.
Já em 2024, o Banco Central divulgou uma nova norma do Conselho Monetário Nacional (CMN), que atualiza as formas de organização e funcionamento das cooperativas. A Resolução CMN Nº 5.131 responde, de acordo com a entidade, às ações das dimensões Competitividade e Inclusão Financeira da Agenda BC#, e pretende contribuir com o desenvolvimento do segmento cooperativista de crédito. No que tange à governança nas instituições, por exemplo, a resolução exige a adoção de política de renovação do conselho de administração, com o intuito de evitar a permanência de membros por prazos excessivamente longos. Porém, o Banco Central pode determinar a revisão desta, se considerar a política inadequada ou incompatível com os riscos aos quais uma instituição está exposta.
O documento aborda, também, as políticas para captação de novos cooperados ou para aumento do capital social pelo quadro de associados; estabelece as condições para representação dos associados por delegados nas assembleias gerais de cooperativas singulares; delimita alguns temas sobre os quais os cooperados devem deliberar em reuniões; dita condições para a assembleia geral destinar sobras para recomposição de recursos dos fundos garantidores, utilizados em operações de assistência e de suporte financeiro às cooperativas; inclui possibilidade de acúmulo de cargos na diretoria executiva de cooperativas de crédito distintas integrantes do mesmo sistema cooperativo; entre outras medidas.
"As cooperativas de crédito estão cada vez mais comprometidas em alinhar seus objetivos empresariais com o desenvolvimento sustentável, garantindo que seu impacto vá além do econômico e traga benefícios ambientais e sociais de longo prazo”, garante Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB. Ele argumenta que as instituições do setor são agentes fundamentais na busca pelo alcance de vários dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU). “Ao promoverem a educação financeira e democratizarem o acesso a serviços bancários, contribuem diretamente para o ODS 1, que trata da erradicação da pobreza, e para o ODS 10, que busca a redução das desigualdades. Muitas práticas que elas adotam também auxiliam a chegarmos mais perto do ODS 12, que corresponde ao consumo e produção responsáveis, e do ODS 13, que aborda ações contra a mudança global do clima”, exemplifica. Uma pesquisa feita pela PwC, com a intenção de apurar o panorama ESG no segmento de cooperativas de crédito, corrobora a fala do dirigente. No levantamento, 76% dos 165 entrevistados do setor disseram que as suas instituições têm compromissos públicos com ESG atrelados a suas estratégias – embora somente 48% trabalhem com metas específicas. A quase totalidade (98%) dos respondentes declarou o interesse em ações em prol da economia e da sociedade, e em aprimorar governança, enquanto 74% afirmaram que as suas instituições seguem, ao menos parcialmente, boas práticas de gestão ambiental em suas operações e espaços físicos. Ainda, 85% afirmaram desenvolver alguma ação social de educação financeira, 61% adotam iniciativas direcionadas a pequenos negócios e 50% têm programa de diversidade para a contratação de funcionários. Em relação à agenda ESG, Ênio Meinen, diretor de Coordenação Sistêmica, Sustentabilidade e Relações Institucionais do Sicoob, diz que a instituição leva a seus cooperados e às comunidades discussões globais para serem tratadas em nível local, e trabalha para que temas como governança, ética, diversidade, inclusão, energia renovável e risco climático ganhem repercussão prática.
Evidências do compromisso da instituição com a sustentabilidade, segundo ele, incluem a aprovação de políticas de Cidadania Financeira e de Diversidade & Inclusão, a adesão ao Pacto Global da ONU, mas também a presença física do Sicoob em 1.859 municípios com população de até 50 mil habitantes. César Bochi, diretor presidente do Banco Cooperativo Sicredi, diz que o tema da sustentabilidade é inerente ao negócio da instituição, que por sua natureza cooperativa foca em promover impactos positivos – econômicos, sociais e ambientais. “De forma transversal, nosso olhar para a sustentabilidade direciona e incorpora as melhores práticas do mercado alicerçadas nos pilares ESG. Um exemplo é a nossa carteira de crédito para a Economia Verde, que em 2023 foi de R$ 51 bilhões. Ela compreende produtos e serviços financeiros que possibilitam a igualdade social e, ao mesmo tempo, reduzem riscos e escassez ambiental. Ainda, somos participantes do Pacto Global da ONU e buscamos responder aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com diversas ações”, pondera.
Ele evidencia, também, que o Sicredi conduz programas sociais e de educação, orquestrados pela Fundação Sicredi e colocados em prática pelas cooperativas. Dentre eles figura o União faz a Vida, vigente por mais de 28 anos. Apenas em 2023, o programa beneficiou mais de 530 mil crianças e adolescentes em pelo menos 3 mil escolas em todo o Brasil, levando uma metodologia própria, baseada em pedagogias ativas, que propõe o aprendizado baseado no desenvolvimento de projetos pelos alunos e enfatiza as interações, interesses e curiosidades dos estudantes. No âmbito da ação, foram capacitados mais de 44,5 mil educadores em 620 municípios ao longo daquele ano.
O zelo das cooperativas de crédito em relação à promoção do desenvolvimento sustentável não é exatamente uma surpresa, já que um dos princípios que balizam a atuação das instituições ressalta justamente a “preocupação com as comunidades”. “As ações de caráter coletivo têm seu alicerce no 7º princípio universal do setor. Mas, para além disso, em razão de reterem recursos financeiros no próprio território, reinvestindo-os ali mesmo, elas contribuem para o aumento e para a redistribuição de riquezas, gerando mais empregos, renda e bem-estar social”, avança Ênio Meinen, diretor do Sicoob. A relação próxima entre instituições e comunidades também assegura melhores condições e saberes para que as decisões sobre os investimentos em favor das populações sejam pertinentes para transformar realidades locais. Os montantes financeiros dedicados pelas cooperativas são significativos, mas a eles somam-se um outro tipo de recurso: o humano. Muitos colaboradores das instituições atuam como voluntários em suas comunidades.
As ações do Instituto Sicoob, agência de investimento social estratégico da organização, contaram com a contribuição de pelo menos 11 mil funcionários, que se envolveram em várias das mais de 17,5 mil iniciativas que beneficiaram mais de 2 milhões de pessoas em 2023, em pelo menos 2,3 mil.
Outro propósito compartilhado pelas cooperativas é o de prover educação, informação e formação dos cooperados e públicos externos. Sabe-se que a educação financeira, por exemplo, é um importante ingrediente para a transformação econômica e para o desenvolvimento social, com o rompimento de ciclos de pobreza e desigualdades.
Uma estrutura mantida para que essas aspirações se concretizem é a do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SesCoop), um dos pilares do Sistema OCB. Como o nome sugere, ele elabora ações e oferece capacitações para o aprimoramento profissional e da gestão nas instituições, bem como atividades direcionadas à educação e à promoção da cultura cooperativista nas comunidades.
Uma das frentes de atuação do SesCoop consiste em fomentar pesquisas acadêmicas relacionadas ao cooperativismo, como por meio da parceria estabelecida, desde 2017, com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Um fruto dessa aliança poderá ser conferido no próximo mês de novembro, quando em evento online 44 investigadores de diversos estados e instituições acadêmicas apresentarão seus trabalhos – eles foram escolhidos entre mais de 130 inscritos. Os contemplados abordam, em suas pesquisas, quatro principais áreas temáticas: Impactos econômicos, sociais e ambientais; Competitividade e inovação no cooperativismo; Cenário jurídico do cooperativismo; e Desenvolvimento organizacional e promoção da prática cooperativista. Para o Sistema OCB, fomentar a pesquisa em diferentes áreas do cooperativismo não só amplia o interesse pelo estudo do setor em diversos segmentos, como cria uma percepção valiosa e soluções transformadoras, e abre espaço para ampliar a inovação, a competitividade e o entendimento mais profundos dos impactos sociais, econômicos e ambientais que o modelo agrega à sociedade.
Individualmente, as cooperativas também se destacam pela atuação em prol da educação. A Cresol, por exemplo, tem como forma de levar esses temas para as comunidades a aproximação a secretarias de educação, colégios, professores, multiplicadores, e crianças jovens e seus familiares. Somente em 2023, suas atividades atenderam 23 mil estudantes, em mais de 500 escolas de 14 estados do país.
“A educação financeira é um tema prioritário no Sicredi, e o objetivo principal das nossas iniciativas relacionadas a esse tema é incentivar a mudança de comportamento das pessoas em relação ao uso do dinheiro, estimulando uma gestão mais consciente e responsável das finanças. Entendemos que a educação financeira é fundamental para a criação de hábitos saudáveis desde a infância, para realizar escolhas mais conscientes em relação ao consumo e para a construção de um futuro financeiro sustentável”, declarou Alexandre Englert Barbosa, diretor-executivo de Sustentabilidade, Administração e Finanças do Sicredi. Ele cita um exemplo de ação de educação financeira com associados e não associados, vigente desde 2016: a “Cooperação na Ponta do Lápis”, que busca contribuir para uma vida financeira mais sustentável para os atendidos com atividades e palestras com conteúdos acessíveis e exercícios empíricos.
Em maio último, o Sicredi lançou um site dedicado à educação financeira, em que disponibiliza gratuitamente cursos e conteúdos interativos (Sicredi/EducacaoFinanceira). A página concentra cursos, materiais em vídeo e e-books, e para os associados disponibiliza, ainda, ferramenta que permite fazer um diagnóstico sobre a saúde financeira por meio do Índice de Saúde Financeira do Brasileiro (I-SFB), criado pela Febraban.
Outra ação de destaque diz respeito ao curso Mulher Empreendedora, lançado pela instituição em 2023, que capacita, gratuitamente, microempreendedoras em situação de vulnerabilidade social. Pensado para mulheres com baixa escolaridade, ele fornece conteúdos sobre a precificação de produtos, a formalização de negócios e o uso de redes sociais para vendas, entre outros temas. A formação se encontra disponível na plataforma de cursos Sicredi na Comunidade e, em 2024, passou a ser oferecida também presencialmente nas mais de 100 cooperativas Sicredi.
Em agosto passado teve início a campanha #CliqueConsciente, criação das cooperativas de crédito em parceria com o Sistema OCB e a Câmara Temática de Crédito. A iniciativa é uma resposta ao aumento de golpes e fraudes financeiras no Brasil. Segundo estudo da ClearSale, empresa especializada em inteligência de dados para a previsão de crimes financeiros, mais de 1 milhão de tentativas de fraude foram registradas apenas na primeira metade de 2024 e resultaram em prejuízo de R$ 1,2 bilhão.
A campanha abrange três etapas: prevenção, detecção e ação. A primeira informa sobre medidas para evitar golpes e fraudes; a segunda ensina a identificar rapidamente atividades suspeitas; e a terceira orienta para os cooperados reagirem de forma eficaz caso uma fraude seja identificada. Uma marca da ação – e um de seus trunfos – é a intercooperação, já que Cresol, Sicoob, Sicredi, Unicred, Ailos, Credisis, Uniprime, Cooperforte, CrediBRF, Sisprime, Barracred e Credicoamo uniram-se para criar uma rede de segurança robusta para prevenir e combater os crimes. Para além da iniciativa, as cooperativas costumam produzir e distribuir, gratuitamente, materiais que informam sobre a necessidade de atenção à segurança por parte dos associados, e também esforçam-se para garantir a segurança a eles nas transações em seus canais.
“O Sicoob investe constantemente tanto no âmbito da segurança cibernética quanto na prevenção a fraudes em seus canais físicos e digitais, e conta com estruturas dedicadas para ambos os processos. Essas estruturas operam transversalmente em todo o sistema, na avaliação de produtos e processos”, afirma Ênio Meinen, diretor no Sicoob. Segundo ele, a instituição trata a prevenção a fraudes como intrínseca ao atendimento dos cooperados e como parte integrante dos negócios, e utiliza, para tanto, ferramentas desenvolvidas internamente e de mercado. Dentre os recursos oferecidos aos cooperados pela instituição há o Pacote de Proteção Contra Golpes. No App Sicoob, ele monitora transações em tempo real e alerta sobre atividades suspeitas, como o Golpe da Falsa Central e Golpe da Mão Fantasma. “As iniciativas desse pacote, além de colher dados técnicos do funcionamento do app, abordam também a engenharia social, que visa manipular o associado e explorar as fraquezas humanas”, narra o executivo.
Segundo Marcus Barbosa, diretor-executivo de riscos do Sicredi, as frentes de segurança são constantemente observadas e são buscadas as melhores soluções para garantir o ambiente seguro aos associados durante as suas transações eletrônicas e para salvaguardar seus dados. “Confiança é o principal atributo da nossa marca, e para ele dedicamos especial atenção, visto que estamos lidando com os recursos financeiros dos nossos associados”, explica. O Sicredi adota um modelo especializado de gerenciamento de segurança da informação e risco cibernético, que considera ameaças, superfícies de ataque potencialmente utilizadas, probabilidade de ocorrência e possíveis impactos ao negócio em caso de materialização de um risco, além de controles preventivos, detectivos e corretivos para mitigar as ameaças. “Com o aumento do cenário de golpes e fraudes no país, atuamos com prioridade na prevenção e combate a eles. Neste ano, entramos com uma forte campanha de comunicação para conscientizar a população sobre os cuidados com seus dados e alertar sobre as interações suspeitas. Esse movimento se soma a uma gama de conteúdos ativados principalmente em ambiente digital, que já vinham com um tom educativo para evitar que nossos associados fossem vítimas de golpistas”, aponta.
Na Pesquisa de Imagem do Cooperativismo 2023, divulgada em abril deste ano pelo Sistema OCB em parceria com a Checon, dentre os 11.522 respondentes de todas as regiões do Brasil, 88% qualificaram o setor como “atual, moderno e inovador”. A percepção se justifica pelo nível e pela qualidade dos investimentos das instituições para manterem-se a par de novas tecnologias e recursos e adaptadas às necessidades ou demandas dos associados e do mercado. “Inovação não é um fim, mas sim uma das ferramentas da evolução”, declara Felipe Feldens, diretor-executivo de Estratégia, Evolução e Dados do Sicredi. Segundo ele, a atenção ao tema é fundamental para a instituição desde o seu surgimento, uma vez que é pioneira, no Brasil, no cooperativismo de crédito. “Utilizamos um modelo de evolução constante que busca a melhoria contínua das experiências de nossos associados e colaboradores. Entendo que o processo é sempre sobre pessoas, ou seja, conhecer as jornadas dos usuários e trabalhar soluções em seu benefício. O objetivo deve ser aproveitar oportunidades e resolver desafios da forma mais eficiente possível. Por isso, hoje mantemos uma preocupação ainda maior e um olhar atento para ações inovadoras, e elas têm papel central em nosso planejamento estratégico”, diz o executivo. Como forma de impulsionar a inovação, o Sicredi adota medidas que incluem projetos internos e o incentivo a startups que tenham produtos ou serviços para solucionar os desafios relacionados aos seus negócios. “Nossas principais iniciativas sistêmicas de fomento ao ambiente de inovação aberta são o programa Inovar Juntos e a parceria com a Federação Nacional de Associações dos Servidores do Banco Central (Fenasbac), com o Aceleração Next. O Sicredi mantém, também, um Lab de Futuros, estrutura focada em experimentação de tecnologias e comportamentos emergentes e, para isso, investe em pesquisa e foresight”, avança Felipe.
No Sicoob, o intento de promover o aperfeiçoamento constante das soluções oferecidas aos clientes está expresso, inclusive, na recentemente aprovada Visão institucional da organização, de “proporcionar a melhor experiência financeira para os nossos cooperados”. “Essa é a diretriz que, ao lado do nosso propósito (voltado para justiça financeira e prosperidade socioeconômica), delineia as prioridades e iniciativas associadas ao nosso portfólio operacional. Organizamos a gestão e aperfeiçoamento dos produtos e serviços por meio de oficinas de Objetivos e Resultados-Chave, em que os times multidisciplinares agem como sócios identificando e priorizando ações para alavancarem estrategicamente as linhas de negócio. Além disso, atuamos na agenda de inovação do segmento financeiro, promovida pelo Banco Central”, esmiuça Ênio Meinen, diretor do Sicoob.
Dentre inovações que a instituição colocou à disposição dos clientes, recentemente, aparecem o SuperApp Sicoob, que unificou diversas soluções do ecossistema digital em um único aplicativo, além de aperfeiçoar a segurança em operações críticas.
A organização também investe em inteligência artificial generativa, e sua plataforma de automação tecnológica passa por constante transformação para que seja cada vez mais instantânea, inteligente e conectada. Há cerca de 15 dias, a instituição disponibilizou, por exemplo, o Assistente Inteligente, módulo que faz uso de GenAI e permite aos cerca de 60 mil funcionários do Sicoob, por meio de um chat, interagir de maneira intuitiva com documentos, o que facilita análises, obtenção de insights, sumarizações, interpretações e extração de informações relevantes em uma linguagem humanizada.
Foi em meados de 2022 que Francielly Abreu Sales, 29 anos, proprietária da Fran Abreu Doces, sediada em Sorriso (MT), juntou-se ao Sicredi. Naquele momento, ela transferia o empreendimento para outro espaço maior e precisava de apoio financeiro e de soluções adequadas. Foi na cooperativa de crédito que Francielly os encontrou. “Inicialmente com uma conta corrente de baixo índice de encargos, sem cobrança de PIX, máquina de cartões com taxas competitivas e equipamentos modernos”, lembra. A empreendedora considera que o Sicredi está diretamente ligado à meteórica ascensão de sua empresa, que ela criou para complementar renda durante a faculdade de Psicologia (atualmente ela já é formada), mas que hoje constitui a maior rede de docerias do Mato Grosso. “Desde o início da parceria já foi possível abrir três novas lojas, nas cidades de Sorriso, Sinop e Lucas do Rio Verde, por meio do acesso a linhas de créditos operadas ou intermediadas pelo Sicredi”, conta. Essas evidências lhe permitiram confirmar o diferencial que constitui a proximidade entre associado e instituição no cooperativismo. “Houve capacidade de compreender as necessidades do cooperado e de trazer as soluções certas ao empreendedor, sempre tão vulnerável às incertezas do mercado e do custo Brasil”, avalia Francielly.
No caso de Felipe Gaburro Barbosa, 41 Anos, de Vitória (ES), o tempo como cooperado já é mais longo – são 12 anos como associado Sicoob. “No início, para ser bem sincero, eu não entendia muito bem o conceito de cooperativa. O que me atraiu à instituição, na época, foram as taxas, porque eu estava abrindo minha empresa, mas o relacionamento foi muito bom desde o começo. Lembro que a gerente, na época, nos visitou, e isso criou uma conexão imediata”, explica. Felipe conta que, conforme o tempo passou, ele descobriu que as taxas eram apenas um detalhe, pois o que realmente o conectou à cooperativa foram a proximidade e a confiança. “É como se fôssemos parentes, mas é um relacionamento orgânico e de respeito mútuo. Sinto que, no Sicoob, há uma relação de igual para igual, de olhar nos olhos, sem aquela sensação de superioridade”, avalia o empresário. Hoje ele usa vários produtos oferecidos pela instituição, como financiamento de veículo, financiamento de energia solar, cartão de crédito e Pronamp. “Além disso, os benefícios que tenho como cooperado, como o recebimento das sobras e dos juros sobre o capital integralizado, tornam a minha relação com a cooperativa ainda melhor”, finaliza.
Hoje, as mais de 82 mil cooperativas de crédito distribuídas em seis continentes promoverão atividades especiais em razão do Dia Internacional dedicado ao setor (o #ICUDay2024). Desde 1948, a terceira quinta-feira do mês de outubro é reservada pelas instituições para lembrar da importância das suas atividades nas vidas dos pelos 403 milhões de associados que reúnem e das comunidades em que estão presentes, a quem atendem com soluções financeiras e programas e projetos sociais e ambientais. Para 2024, o World Council of Credit Unions (Woccu), ou seja, o Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito, escolheu “Um mundo através do financiamento cooperativo” como tema a ser trabalhado na data. Com ele, acredita reforçar mensagem de que o segmento aproxima as pessoas por meio de instituições democráticas e de um movimento social progressista, destinado a ajudar qualquer cidadão ou cidadã a melhor controlarem as suas economias.
O Woccu preparou uma série de materiais informativos e de divulgação, físicos e virtuais, para o Dia Internacional. Também sugere três maneiras para que entusiastas do cooperativismo de crédito espalhem a informação de que ele é “verdadeiramente sobre pessoas ajudando pessoas” ao longo do #ICUDay2024. Por exemplo, para ajudar a “educar” sobre o tema, a Woccu propõe a disseminação de conteúdos que ressaltem a diferença entre cooperativas de crédito e outras instituições financeiras. Para “celebrar” a data, pode-se ajudar a divulgar as atividades programadas para o 17 de outubro por cada instituição, em diferentes localidades. Por fim, convida indivíduos e instituições a “participarem” das comemorações por intermédio da publicação de mensagens e fotos sobre o orgulho e a importância do cooperativismo ou ao realizarem doações. Este ano, a Woccu pretende arrecadar, por meio delas, mas também da venda de broches e outros produtos do Dia Internacional, pelo menos 500 mil dólares a serem destinados a iniciativas sociais patrocinadas pela Fundação Mundial para Cooperativas de Crédito.
As razões para celebrar o cooperativismo de crédito, especificamente, mas também o movimento e todos os seus ramos de forma geral, derivam das contribuições que eles já deram e ainda a poderão dar ao desenvolvimento sustentável. Tanto é assim, que a Organização das Nações Unidas declarou 2025 como Ano Internacional das Cooperativas. Os objetivos, ao colocá-las no centro da agenda global, incluem fazer com que: governos criem ambientes favoráveis para as cooperativas; instituições promovam a conscientização pública, desenvolvam novos líderes e promovam o modelo associativo; organizações e agências de desenvolvimento também promovam o cooperativismo por meio da educação, do fortalecimento de capacidades e da facilitação a parcerias internacionais; o público em geral compreenda melhor o que é o cooperativismo e o apoie.
Hoje, as cooperativas são mais de 3 milhões, e atuam em vários segmentos – como os financeiro, agropecuário, dos transportes, da saúde, do consumo, do trabalho e da infraestrutura. Pelo menos 12% das pessoas na Terra estão diretamente associadas a elas, e essas organizações fornecem vagas ou oportunidades de trabalho para 10% da população empregada no planeta. Ademais, só as 300 maiores cooperativas do mundo respondem por 2.409,41 bilhões de dólares em faturamento, ao mesmo tempo que prestam os serviços e a infraestrutura de que a sociedade precisa para prosperar. Não à toa, portanto, a ONU anunciou que o tema para o Ano Internacional será “As cooperativas constroem um mundo melhor”.
O presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, considera a decisão da Organização das Nações Unidas um marco histórico e uma oportunidade única para colocar em evidência a importância do modelo cooperativista. “Este reconhecimento global sublinha o papel das cooperativas como motores do desenvolvimento sustentável, ao proverem inclusão social, geração de emprego e desenvolvimento econômico. O Sistema OCB já prepara uma série de iniciativas para aproveitar o momento de mais visibilidade. Queremos mostrar para o Brasil e para o mundo como o cooperativismo pode ser uma solução poderosa para muitos dos desafios que enfrentamos”, contou.
Já o presidente da International Cooperative Alliance (ICA), Ariel Guarco, declarou que o fato da ONU dedicar um ano para promover o modelo não é um acaso. “Impulsionadas pela preocupação com todas as comunidades, as cooperativas adaptaram-se com sucesso para superar os desafios em evolução de nossos tempos e demonstraram repetidamente, ao longo da história, que, juntos, estamos de fato construindo um mundo melhor”, esclareceu.
Em 1844, um grupo de proletários – a maioria deles tecelões – de Rochdale, bairro pobre de Manchester, na Inglaterra, constituiu a Rochdale Society of Equitable Pioneers, organização que adotou um modelo e princípios de negócios que inspiraram e consolidaram o cooperativismo. O cenário amargo e comum a muitas partes da Europa naquela década, associado à pobreza, à fome e ao desemprego, impeliu 30 operários a criarem seu próprio negócio. Eles optaram por juntar seus recursos para adquirir produtos e comercializá-los, a valores justos, em um estabelecimento com diferenças importantes em relação àqueles que seguiam lógicas capitalistas. Desde a sua fundação, a Rochdale Society of Equitable Pioneers definiu que todos os seus associados participariam tanto das decisões sobre o empreendimento quanto da distribuição dos lucros (se eles viessem).
O professor e pesquisador Brett Fairbairn descreveu, em artigo sobre os pioneiros, que a sociedade constituída por eles tinha propósitos econômicos pragmáticos, mas dentro do contexto de uma cultura ativista da classe trabalhadora e de uma perspectiva ideológica visionária. Segundo o autor, “a pobreza e a miséria que os cercavam em Rochdale eram sem dúvida uma grande parte de sua motivação para criar uma cooperativa. Portanto, é razoável dizer que as forças da pobreza e da necessidade os inspiraram. Mas eles o fizeram de forma indireta, mediados pela agência do idealismo e do pensamento social crítico, e pelos ativistas do Owenismo, Chartismo e outros movimentos sociais. (...) O mesmo provavelmente pode ser dito de todas as cooperativas de sucesso em todos os tempos e lugares: elas surgem da necessidade, quando alguns ativistas, instituições ou agências as promovem e organizam conscientemente”.
Além de semearem o modelo cooperativista, os vanguardistas de Rochdale também foram responsáveis por elaborar uma primeira versão dos princípios que passaram a nortear a atuação também de outras organizações que optaram por ele. As premissas definidas defendiam o estabelecimento de organizações interclassistas e de admissão livre, fundamentadas na democracia, na equidade e na solidariedade. Enfatizavam, ainda, a importância de priorizar o atendimento às necessidades dos seus membros e das comunidades, e não a maximização dos lucros para os acionistas.
Os “Sete Princípios de Rochdale”, formulados há quase dois séculos, permanecem vivos em sua essência, mas foram atualizados em pelo menos três momentos - 1937, 1966 e 1995. Essa revisão deu-se para que eles acompanhassem as mudanças sociais e econômicas e continuassem a ser respeitados, difundidos e aplicados por todas as “associações autônomas de pessoas unidas voluntariamente para satisfazer as suas necessidades e aspirações econômicas, sociais e culturais comuns por meio de uma empresa de propriedade conjunta e controlada democraticamente” – que é como a ICA define todas as integrantes do movimento.
Adesão livre e voluntária - todos são bem-vindos ao cooperativismo, independentemente de gênero, raça, idade, renda, orientação sexual, religião ou preferência política. A única exigência é que cada cooperado cumpra os deveres assumidos ao entrar em uma cooperativa.
Participação econômica dos membros - gente que investe e também ganha. Quem entra em uma cooperativa como associado faz uma contribuição para formar (ou fortalecer) o capital do grupo. O objetivo é fazer a pessoa ou empresa se sentir dona do negócio. Esse aporte também ajuda os associados a entenderem que, dentro do cooperativismo, ninguém leva vantagem sobre ninguém. Tanto que a participação nos resultados é proporcional à movimentação financeira realizada ao longo do ano por cada um.
Educação, formação e informação – há a promoção da educação e a formação dos cooperados em todos os níveis, e investimentos para que as pessoas possam aprender, inovar e crescer pessoal e profissionalmente. Outro compromisso é o de promover a educação nas comunidades onde estão inseridas as cooperativas e levar informação sobre o jeito diferente de elas fazerem negócios, para toda a sociedade.
Interesse pela comunidade - O cooperativismo faz questão de devolver à sociedade parte do que recebe. Reserva, para isso, uma parcela dos resultados para a realização de projetos que promovam o desenvolvimento das pessoas e das comunidades onde atua. Ao fazer isso, investe hoje no amanhã – um pensamento sustentável, que tem tudo a ver com o jeito diferente de pensar o mundo que permeia o setor.
Gestão democrática – no cooperativismo todo mundo tem voz e voto! As decisões são tomadas de forma coletiva, cada pessoa tem direito a um voto e, como em qualquer democracia que se preze, quando a maioria toma uma decisão, ela é respeitada e aceita por todos, até que haja uma nova votação.
Autonomia e independência - ninguém é melhor ou pior do que ninguém. Esse pensamento vale tanto para as pessoas quanto para os negócios. Por isso, sempre que cooperativas fazem acordos com outras organizações, sejam elas públicas ou privadas, elas fazem questão de manter suas autonomia e independência.
Intercooperação - existe um pacto de lealdade dentro do cooperativismo: sempre que possível, as instituições unem forças para crescer. Quando uma cooperativa cresce, ela tem a missão de puxar outra. Mais do que isso: em vez de competir, ela tem o compromisso de somar para atingir os melhores resultados. Isso é intercooperação: enxergar aliados onde outros veriam concorrentes.
O Sistema OCB realizará ações especiais em homenagem ao Dia Internacional da Cooperativas de Crédito. Nas redes sociais da entidade, haverá postagens e stories sobre as principais diferenças entre as instituições do setor em relação a outras do sistema financeiro, bem como divulgação de podcasts (como o PodCooperar e o NerdCast, disponíveis no Spotify) e de outros conteúdos audiovisuais ou escritos a respeito do segmento. As ações incluirão, ainda, inserções em newsletters especializadas, publipost no site do Metrópoles (sobre como as cooperativas de crédito e o BNDES impulsionam os pequenos negócios) e matéria jornalística, no site SomosCooperativismo, com os resultados do estudo feito pelo Sistema OCB em parceria com a Fipe sobre cooperativas e cooperativismo de crédito e seus impactos favoráveis às comunidades.
*Conteúdo produzido pela Point e publicado no jornal Folha de S.Paulo em 17/10/2024
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Edição: Las Miradas Comunicação | Gustavo Dhein
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